Palavras em surdina,
sem nenhuma intenção
de abandonar os espaços
em branco.
Arrasto comigo um texto
em busca de letras exatas
para ser urdido,
que me respire e me arrebate
no seu fôlego,
que me recorte
nos parágrafos do dia.
Este repertório de conversação:
verbo,
lema,
linguagem,
cairel da língua,
palimpsestos
— nada me serve.
A logorréia da intranquilidade
avança sobre meus sigilos,
finca bandeiras,
desbrava. Chego atrasado
ao que quero falar.
Como uma árvore bonsai,
minha palavra é podada.
E silencia o escrito,
até dizer.
(Quando criança, eu repetia uma palavra
intermináveis vezes para mim mesmo,
até que seu sentido se perdesse com calma,
deixando exclusivamente a crosta de um som cavo.
Tente: muito é ótimo).
O amor está morto.
E quem escreve poemas,
nesse tempo de
átimos e átomos,
está disparando no vazio.
Mas
o verbo amar,
cruel,
acossa-nos
por onde quer que vamos.
Fui hipnotizado pelas ondas
de um olhar
implacavelmente azul.
E na força das águas,
aportei
onde os olhos sabem suas lágrimas:
enseadas lentas,
praias desertas e cais
abandonados
em noites de recuerdos ao luar.
Súbito,
ventou um silêncio de brisa
e sem demora
: águas passadas,
sem ressaca.
Aperte 1 para a impaciência com o menosprezo
dos atendentes de todos os serviços telefônicos,
sua falta de preparo ao lidar com pessoas,
sua ineficiência cava, ensinada e repetida,
como se isso fosse um trato profissional requerido.
Aperte 2, 3, para a renúncia do seu tempo,
que se esvanece em sinfonias inanes de saxofone,
música de elevador, transformando tudo num ruído
oco, sem sentido, até você perder o propósito:
para quem estou ligando mesmo?
Aperte 4, 5, 6 para insatisfação garantida,
de ficar perdido diante de tantas opções de discagem,
como defronte a um menu indigesto,
cuja comida nunca mata a sua fome,
cujo sabor só promete a náusea vindoura.
Aperte 7, 8, 9 para a vontade de esganar
o atendente, o supervisor, o chefe de operações,
todos assentados no sarcasmo, podendo fazer algo,
mas – ainda assim – presos no conluio de postergar
e até mal usar o idioma, num gerundismo canhestro:
“amanhã estaremos mandando o técnico à sua casa”.
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