Ônibus noturno.
Citígrados em estase,
passageiros banhados
em obscuridade fluorescente
assentam-se taciturnos,
todo canto e fresta iluminados,
ninguém lançando
uma sombra sequer
– como um desmorto
que rondasse um rarefeito
castelo cárpato.
Há dois mundos (disjuntos)
: o realismo rigoroso e luzidio do interior
e o impressionismo externo,
onde luzes coloridas estilam
e se difundem pela escuridão,
lambuzando pupilas,
borrando e fluindo
sobre uma tela dinâmica de noite.
Um acervo que se perde
no grande ventre do nada
ao que o ônibus estaciona
e embarca mais fantasmas combalidos,
outros avantesmas que se amesquinham
a um instante do colóquio gratuito.