Quem não vê bem uma palavra,
não pode ver bem uma alma”.
(Fernando Pessoa)
Eu acordo numa reentrância da noite,
minha boca como uma gaveta vazia.
São três da madrugada
e a cama é um país estrangeiro,
mesmo idioma, mas numa inflexão diferente,
este solavanco para insônia
um indício.
Eu me decalco em passos
casa afora, buscando
não sei o quê. Sim,
há sempre os que encontram
e aqueles, como eu, que nem sabem onde puseram.
Algo precisa vir ao escrito,
tatuar a brevidade em coisa eterna,
criar nexo.
(Você nem sabe o quanto
eu gaguejo por dentro).
E assim procuro
uma palavra que misture
peripécia com insurreição,
rasgo de se erguer o sétimo véu
além das realidades
tangíveis da vida diária.
Nada extenso, só
a contraparte estética da ocasião,
algo que informe
seja em que dialeto for.
Saltimbanco,
ele me aparece,
dublê da eternidade,
espaço de cronometragem impecável,
solução aguardada com interesse:
o & insiste
nessa promiscuidade,
nos lugares de encontros de estranhos,
nenhum conhecimento prévio como condição.
Um mero sinal
para provar
que nenhum encontro
é inconsequente.