1.
Agradeçamos aos nossos enganos
e os abençoemos por sua prosa terrivelmente vulnerável.
2.
Nós deveríamos lhes oferecer nossa gratidão,
admiração por nos dar nossas fissuras
e nos cicatrizar com embaraço,
no lampejo quente de uma confissão.
Obrigado, transgressões,
por nos fazer
tão direitos
em nossas imperfeições.
Menos defeituosos,
nós poderíamos ter nos desviado e,
aptos demais,
procurado outros caminhos.
3.
Ainda que nosso engano perfeito
tenha vindo diretamente para nós,
para dentro de nossas vidas ordenadamente atravancadas,
(que até poderiam ter estado
fechadas, adormecidas, mas
ao invés ficaram acordadas toda a noite,
esquecendo da pílula, do livro bom,
das oito horas necessárias),
mantendo nosso coração atordoado e aturdindo – este engano é nosso!
4.
Quão infeliz a perfeição
pareceria, ali na estante,
sem sequer uma fenda,
sem esta quebra crítica
– esta queda –
este súbito e emocionante desenho
que acontece
de ser
nós.