No escuro, o menino perguntava
(o que é o mundo?)
apenas para escutar sua tia afirmar
(uma casa dentro de uma casa)
ou simplesmente para sua mãe responder
(uma ala inacabada do céu).
Como alguém poderia adivinhar,
naquela casa, e nas outras que se seguiriam,
que a questão encontraria
seu começo de resposta
crescendo dentro daquele que perguntou,
aquela criança insone,
o predileto da noite?
Mais tarde, já adulto
deitado na assonia,
ele se pergunta outra vez,
meramente para ouvir
o silêncio assaltá-lo
(essa noite se arqueando sobre sua admiração,
o fado próximo que se achega na alcançadura)
e se lembrar que durante
essa parca intermitência,
esse imenso adeus
que se prolonga,
cada um deve fazer
do seu peito um sacrário,
antes que uma visita
tão estrangeira e esquiva
como Deus se avizinhe.