Aperte 1 para a impaciência com o menosprezo
dos atendentes de todos os serviços telefônicos,
sua falta de preparo ao lidar com pessoas,
sua ineficiência cava, ensinada e repetida,
como se isso fosse um trato profissional requerido.
Aperte 2, 3, para a renúncia do seu tempo,
que se esvanece em sinfonias inanes de saxofone,
música de elevador, transformando tudo num ruído
oco, sem sentido, até você perder o propósito:
para quem estou ligando mesmo?
Aperte 4, 5, 6 para insatisfação garantida,
de ficar perdido diante de tantas opções de discagem,
como defronte a um menu indigesto,
cuja comida nunca mata a sua fome,
cujo sabor só promete a náusea vindoura.
Aperte 7, 8, 9 para a vontade de esganar
o atendente, o supervisor, o chefe de operações,
todos assentados no sarcasmo, podendo fazer algo,
mas – ainda assim – presos no conluio de postergar
e até mal usar o idioma, num gerundismo canhestro:
“amanhã estaremos mandando o técnico à sua casa”.