Palavras em surdina,
sem nenhuma intenção
de abandonar os espaços
em branco.
Arrasto comigo um texto
em busca de letras exatas
para ser urdido,
que me respire e me arrebate
no seu fôlego,
que me recorte
nos parágrafos do dia.
Este repertório de conversação:
verbo,
lema,
linguagem,
cairel da língua,
palimpsestos
— nada me serve.
A logorréia da intranquilidade
avança sobre meus sigilos,
finca bandeiras,
desbrava. Chego atrasado
ao que quero falar.
Como uma árvore bonsai,
minha palavra é podada.
E silencia o escrito,
até dizer.
(Quando criança, eu repetia uma palavra
intermináveis vezes para mim mesmo,
até que seu sentido se perdesse com calma,
deixando exclusivamente a crosta de um som cavo.
Tente: muito é ótimo).
Aperte 1 para a impaciência com o menosprezo dos atendentes de todos os serviços telefônicos, sua falta de preparo ao lidar com pessoas, sua ineficiência cava, ensinada e repetida, como se isso fosse um trato profissional requerido.
Aperte 2, 3, para a renúncia do seu tempo, que se esvanece em sinfonias inanes de saxofone, música de elevador, transformando tudo num ruído oco, sem sentido, até você perder o propósito: para quem estou ligando mesmo?
Aperte 4, 5, 6 para insatisfação garantida, de ficar perdido diante de tantas opções de discagem, como defronte a um menu indigesto, cuja comida nunca mata a sua fome, cujo sabor só promete a náusea vindoura.
Aperte 7, 8, 9 para a vontade de esganar o atendente, o supervisor, o chefe de operações, todos assentados no sarcasmo, podendo fazer algo, mas – ainda assim – presos no conluio de postergar e até mal usar o idioma, num gerundismo canhestro: