segunda-feira, 17 de novembro de 2025 10 comentários

Da solidão esferográfica


A noite caiu
violentamente
                                                sobre os ponteiros
                                                de minha sanidade.

A insônia
                                                                                                         me vigia,
                                                com aquela
perseverança
                                                que só
                                                ela. Eis que
                                                                                                             estou aqui
                                                provocando
                                                precisamente
a palavra
                                                que não
                                                vem.


domingo, 5 de outubro de 2025 14 comentários

Exercício da vertigem


Há tristeza no signo do crepúsculo 
- a emprestar o tema.

O amor, sei que é
por um triz,
passadiço e árduo.

Mas com o que
e onde me escusar
do que não é amor,
simplesmente?


domingo, 14 de setembro de 2025 14 comentários

Imisção


O relacionamento não é
um abrigo ou mesmo um teto.

É antes disso, e mais áspero.

Artificial como fronteiras
cartográficas, o ermo
onde o outro não é remédio
para a solidão,

nem a privacidade é mais
garantia de sossego.

É onde tropeçamos no escuro,
noite após noite após noite,
esperando por uma clareza
de propósito.

Dolorosamente
ineficientes
ao lidar com nossos
mútuos assombros,
é difícil
acreditar que chegamos
até aqui:
imiscíveis.


domingo, 17 de agosto de 2025 6 comentários

Fluvial


 )
Às margens do São Francisco, vinte e cinco anos depois
(

A surpresa, o engasgo do instante. 
Eu simplesmente não estava preparado 
para tanto azul, assim tão caudaloso, 
nem para a majestade de tanta água. 
Meus ribeirões sempre foram cheios de lodo, 
estanques e sóbrios, 
nauseabundos pelo esgotamento 
paulatino e axiomático. 
E agora, esse rio prestes nos olhos 
vem me percorrer com uma força zen 
tornada manifesta, um deleite 
de dilatar as pupilas. 
Agosto estua e tudo 
imprime enredos na torrente
: conluio de fluxos que me fizeram 
desaguar no desenfado destas margens.

 
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