Percebo as pequenas coisas:
o zumbido de uma geladeira,
o atrito do tecido
de uma camisa antiga
contra a pele, o som
dos saltos de madeira
sobre o cimento arenoso,
o sentido
de uma conta telefônica
vencida.
Quando se
pára para
pensar, a maior
parte da vida
é senão
um acúmulo
de pequenas coisas,
como geladeiras
que zumbem ou telefones
cancelados.
De certa forma,
sou como
um velho amanuense,
espanando
as superfícies
da minha vida.
Perscrutando
o ordinário, em busca
de uma conexão
subjacente.
10 comentários:
Enquanto lia esse texto, ouvi todos os sons contidos nele.
=D
A trilha sonora pessoal faz a diferença... :)
E o que seria a vida se não fosse por todos esses sons, tons e sensações tão familiares?
Bjusss
Su,
É que eu sempre tento achar significados ocultos na familiaridade... ;)
Beijo e obrigado pela visita!
Na invisibilidade do corriqueiro, barulho de vai e vem de respiração. Estamos vivos. Mas isso não é tudo. Beijo grande, meu querido...
Ariana,
... O tudo não nos pertence, acho. Cabe-nos, tão somente, montar o quebra-cabeças do que nos é dado. Fazer sentido, isso sim, está ao alcance.
Beijo!
Fabrício,
Por vezes pequenas coisas dilaceram a alma, outras alentam, como brisa em tarde de verão. No fim das contas (de telefone ou da vida), de pequenas coisas soerguem aconchegos, familiaridades, afinidades, lembranças, memórias, saudades, preferências... Nos construímos, sorvendo doses homeopáticas de coisas...
Até outras pequenas coisas...
Raquel,
Somos, então, como aquelas pedrinhas de mosaico, que só fazem sentido quando postas no todo? Ou será que é só assim que conseguimos nos aperceber do que é a (nossa) vida?
Caríssimo amanuense/mestre/POETA!
Você registra os fatos mais simples, com tal maestria, que, na análise "do ordinário",conduz o leitor à "busca da conexão subjacente"!
Grande abraço,
Andrea Marcondes
Andrea,
Não me arvoro a ser mestre, ainda. Falta-me muito e tanto! Mas o olhar, esse, você sabe, é atento desde sempre.
Grande abraço, com carinho!
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