Segunda-feira, imensa desolação a céu aberto.
Pondero a singeleza dos meus cadarços,
como se uma filosofia, uma vida noturna,
pudesse ser elaborada dali,
deixo as horas deslizarem, distraídas.
O calor da tarde dá morada à lentidão da alma.
Temos tempo.
Não que haja muito a dizer
: a nostalgia carcome, voraz,
as notícias de sempre.
As vitórias são as mesmas,
raquíticas, pele e osso.
De ser feliz não se sabe,
nem há notícias de Deus.
Morrer é fácil, não há justiça.
Horas de trégua ainda há,
quando se afiam as facas.
Entretanto, nada significa,
irrisório e medíocre.
Sob a ferida exposta da mais-valia,
concluímos: viver, na verdade,
é um jogo de desarmar.
10 comentários:
Preciso reler para tecer algo sobre.
Mas desde já digo, ou melhor, nem preciso dizer...
Vc sempre com boas palavras, e desta vez, chegadas num bom momento.
Ah, esse tão de "efêmero"...
Este blog está um delícia... Aos poucos vou saboreando cada pedacinho dele...
Um cheiro!
Ivanessa.
Anne,
O efêmero, a impermanência, é algo que muito me diz respeito. Tanto é que uma das minhas tags é impermanência...
Ivanessa,
Fico muito grato com sua leitura de meu texto. Volte mais vezes, o prazer é meu. Beijo!
Tao próximo do que se sente em dias assim... Onde tudo parece tao cheio de mesmice. Em um tempo em que interiorizo a mais profunda reflexão, o texto fala a alma. Muito bonito, Fabrício. Muito especial.
(Diana Coy)
Di, querida,
Há dias que parece que a velocidade, qualquer, deixa de existir. É tudo uma imobilidade irritante, uma dificuldade de se sentir qualquer coisa indo de um lugar a outro, ideias ou conversas ou fatos. Assim, parece que só nos resta mesmo a introspecção, o vistoriar interno para perceber alguma goteira sobre a alma, as rachaduras na parede do pensamento; e tratar de arrumá-los, nós mesmos.
Beijo e obrigado pelo comentário! Gostei muito!
E neste "nadifúndio" estamos nós, criativos seres indolentes, querendo saber se tartaruga morde, para calcular quanto tempo temos antes que ela nos alcance os pés naturalmente descalços, naturalmente quietos...
Su,
E tudo se perfazendo na modorra...
Queria apenas que a justiça fosse mais ágil, nem que fosse um tantinho só. Precisamos.
Abraço!
Fabrício,
Segunda-feira é sempre dia difícil. Acordar cedo e (re)planejar a semana, (re)organizar prioridades, (re)começar o regime, (re)matricular na academia, (re)encontrar os amigos... A semana passa a jato. As metas ficam “a concluir”. Num piscar de olhos, já é segunda-feira de novo. Rotina. Argh! E de novo, acordar cedo, (re)planejar, (re)organizar, (re)começar, (re)matricular, (re)encontrar...
Valeu, poeta, pela qualidade do texto (como de costume) e pelo choque de realidade...
Voltemos à labuta... Ainda é segunda-feira e há muitas metas a concluir.
Bj
Raquel,
Segunda-feira é mesmo isso: o choque da realidade, ou, melhor dizendo, a realidade enfadonha e morosa, o mesmo de sempre.
Algum dia, será?, haverá uma segunda-feira diferente...
Abraço!
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