Palavras em surdina,
sem nenhuma intenção
de abandonar os espaços
em branco.
Arrasto comigo um texto
em busca de letras exatas
para ser urdido,
que me respire e me arrebate
no seu fôlego,
que me recorte
nos parágrafos do dia.
Este repertório de conversação:
verbo,
lema,
linguagem,
cairel da língua,
palimpsestos
— nada me serve.
A logorréia da intranquilidade
avança sobre meus sigilos,
finca bandeiras,
desbrava. Chego atrasado
ao que quero falar.
Como uma árvore bonsai,
minha palavra é podada.
E silencia o escrito,
até dizer.
(Quando criança, eu repetia uma palavra
intermináveis vezes para mim mesmo,
até que seu sentido se perdesse com calma,
deixando exclusivamente a crosta de um som cavo.
Tente: muito é ótimo).
10 comentários:
"Quando criança, eu repetia uma palavra
intermináveis vezes para mim mesmo,
até que seu sentido se perdesse com calma,
deixando exclusivamente a crosta de um som cavo."
Eu também fazia isso quando criança.
Aliás, faço até hoje, ainda que em menor frequência.
Mas é muito interessante quando a palavra perde o sentido e só fica o som...
(Inclusive já fiz isso com o meu próprio nome e foi uma experiência um tanto quanto marcante...)
Legal saber que tem outras pessoas que fazem isso também...
Bjo, Fabrício!
Muito marcou-me profundamente, porque depois de alguns longos minutos repetindo-a, como mantra, a palavra simplesmente deixou de fazer sentido para mim. Eu não sabia mais o que ela significava - sequer sabia se falava 'múito' ou 'muinto'. Cosciência recobrada, descobri esse exercício maluco de torcer a palavra ao seu essencial, seu som, e achar nisso um momento alegórico de paz.
Obrigado pela visita, Talita. Beijo grande!
Adoro jogar e ser jogada com as palavras.
Adorei o texto.
:)
Carina,
... Também me sinto assim: as palavras são meu melhor 'playground'.
Muito obrigado pela visita!
E há palavras que “silenciam o escrito” porque de tão profundas só vão encontrar significado quando calam profundo na alma daquele que a lê.
Pois é...certas palavras precisam de silêncio para serem ouvidas...
shiiiiii...
(sussurros)Abraço graaandeee e tenha uma boa noite,
Rôsi
Rôsi,
Obrigado pela visita e pelo comentário. Espero que minhas palavras não calem, mas suscitem outras mais, em diversos tons, para que - assim - a poesia não se cale.
Abraço, com carinho!
Caríssimo POETA,
Ao ler "OUROPEL", voltei a perceber suas certezas e hesitações, quando o foco de sua atenção é a própria poesia: forma encontrada por você para conversar com o mundo.
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Permita-me registrar,aqui, um trecho de Drummond que pode ser "assumido" por você, que se entrega de mil formas, remexendo o "reino das palavras", trabalhando sempre na expectativa de que possa oferecer alguma explicação para os mistérios da vida:
"PALAVRA, PALAVRA,
(DIGO EXASPERADO),
SE ME DESAFIAS,
ACEITO O COMBATE!"
("O Lutador")
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Admiro seu trabalho! LUTE, SEMPRE, COM E PELA PALAVRA!
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Desculpe-me a logorréia!(sic!) Precisava lhe falar tudo isto.
Grande abraço,
Andrea Marcondes
Andrea,
Eu precisava da logorreia. Fico muito contente em saber que meu trabalho é admirado por você. Contente e orgulhoso. Obrigado!
Abraço, com 'sodade'!
Olá poeta,
ao ler seu poema, fico com a forte sensação da busca humana em dar sentido ao mundo por meio das palavras, e ao mesmo tempo uma forte sensação de ser esta uma busca interminável, pois que nunca se realiza por completo. O movimento da busca sim é o que faz sentido. Você, com sua poesia, nos ajuda nesse movimento. Por alguns instantes, no poema, parte do mundo adquire sentido e pode ser contemplada.
Parabéns poeta! E mais uma vez obrigada por compartilhar!
Beijo grande!
Tarciana.
Tarci,
Quem agradece, tanto a visita como os comentários alentadores, sou eu.
Beijo, com carinho!
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