No auge da tempestade,
saio para assistir
e, ao voltar,
trago no cálice das mãos
um granizo
do tamanho de uma bola de gude,
um gomo
caído das nuvens
fendidas por relâmpagos.
Fascinado,
eu me esqueço
da possibilidade de quebra
das vidraças, desconheço
as advertências de minha mãe
e seu rosário
a postos para oração,
o cobrir sobressaltado de espelhos
(um caso antigo
entre minha avó
e trovoadas ancestrais).
Observo
meu bocado do firmamento
derreter – levo-o aos lábios,
provo dos ventos glaciais
e das noites polares.
Enquanto a chuva cai
mais suavemente
e o trovão ressoa
mais distante,
a tempestade se dissolve
doce
em minha língua.
Escrito por
Fabrício César Franco
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16 comentários:
Poeta,
Fiquei imaginando como seria o gosto dos ventos glaciais e o das noites polares e pareceram maravilhosos.
Indi
Indi,
... Gosto de antanho, de outras épocas, de coisas viajoras. E, ao mesmo tempo, simplesmente de água gelada. O sabor, acho eu, já estava no que eu esperava.
Obrigado pela visita!!
Esse bocado de firmamento é a prenda que fica em minha alma... derretendo... ao terminar a leitura desse doce feito poesia!
Eliana,
Obrigado pelas doces palavras! Fiquei pensando na diferença de sentidos que a palavra ('prenda') tem, aí para vocês do sul, e peguei-me rindo com a possibilidade de nova interpretação do singelo granizo...
Beijo e seja sempre bem-vinda!
Mas bah, guri, tens razão!
Eliana,
Uai, não é que tenho? Nesses nossos Brasis de várias línguas num só idioma, é divertido pensar o quanto uma palavra pode valsar dentro de nossas conotações.
Outro beijo!
que bonito holismo nestes versos, Franco!
obrigada por redirecionar nosso olhar sobre as consequências disso; quase q ao avesso.
[aqui, parou de chover há pouco: um mar! tsc... :/]
beijo
Rafaela,
... Fiquei sabendo dos efeitos da chuva aí pela TV. Nessa época do ano, é sempre uma angústia o que chuva traz. Pergunto-me se não há saídas (devem existir, ainda que não sejam as pretendidas pela assim chamada governabilidade).
Que você não tenha nenhum problema com os mares por aí (os de dentro, os de fora).
Beijo!
verdade, todo ano é a mesma lenga e nada é resolvido.
bem próximo daqui vi o sufoco de alguns... [temos voz perante os governantes? há q se tentar.]
obrigada, poeta.
beijo
Rafaela,
Se a poesia não se cala, também a poetisa. Tente, ao menos.
Uma hora, haverão de escutar.
Beijo!
Fabrício,
Granizo é coisa contraditória...
Em geral, faz estragos, mas cai, lá pelos tempos de primavera, quando o céu incorpora uma textura e cor inacreditavelmente lindas.
E como é bom ver as bolinhas quicando feito pipoca!!!!
Assanha a euforia da criança que guardo comigo e anuncia o tempo das águas.
Inté
Raquel,
É exatamente assim que eu me sinto frente à contradição que você apontou. Não gosto de chuvas, mas só de ver as 'bolinhas quicando feito pipoca' já me faz ver tudo de maneira diferente.
Inté e obrigado pela visita!
Caríssimo POETA das MINAS GERAIS,
Depois de ler "PRENDA", imagino o orgulho e a alegria de seus familiares ( principalmente de sua mãe), ao constatar(em) o resgate de sua "tradição familiar"(sic!), como DRUMMOND, seu conterrâneo sempre o fez.
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POETAS expressam o inusitado, como: "...a tempestade se dissolve doce em minha língua". E ENCANTAM os leitores.
Grande abraço,
Andrea Marcondes
Andrea,
Muito do que eu escrevo vem dos recônditos da mineiridade vivida em tempos de criança e adolescente. Hoje, 'expatriado às margens do São Francisco', retenho comigo flashes do que vivi e mesclo tudo numa colcha de retalhos poética, um grande patchwork de palavras.
Abraço, com muito carinho e 'sodade'.
Finalmente o vejo falar de uma verdadeira tempestade, ainda que seja natural, de chuvas, trovoadas, vento e gelo... O que me encanta desde os tempos imemoriais...
Adorei a poesia.
Bjussss
Su,
Não gosto de chuvas. O melhor tempo, para mim, é quando está frio mas o céu é 'de brigadeiro'. Não tenho esse tempo faz anos, mas me contento com a ausência de chuvas. De vez em quando, entretanto, a vida tem o condão de me surpreender, como desta feita.
Beijo!
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