“Eu tenho medo do ótimo e do superlativo.
Quando começa a ficar muito bom,
eu ou desconfio ou dou um passo para trás.”
(Clarice Lispector)
Quando começa a ficar muito bom,
eu ou desconfio ou dou um passo para trás.”
(Clarice Lispector)
: o pretenso cálculo, o passo em falso.
E de repente, a ternura toma posse
sem aviso, no momento preciso
em que sói acontecer.
Talvez eu não estivera pronto,
na covardia que sempre me envolvera,
pusilânime homem de palha.
Porventura eu desistira
por ser demasiadamente irresoluto,
desprezível em minha timidez.
O inusitado de nosso encontro
fora por demais insólito e eu,
ímbele e perplexo, nunca soube
como me portar na conflagração do amor.
Desertei do sentimento, não sem antes
bater-me com suas missivas, que reli
um sem número de vezes antes de
ser tomado por esse desejo incendiário,
fagulha que incinerou todas as linhas e envelopes.
Nunca lhe respondi,
frases se acumularam na posta restante,
sem saber que não se guardam palavras.
Quando poupadas, decompõem-se
na própria usura e hoje pergunto:
como posso desqueimar suas cartas?
18 comentários:
Que pena! Esconde a caixa de fósforos...
Eliana,
... As cartas já não mais existem, os carteiros só entregam contas.
Obrigado pela visita!
Poeta,
desqueimar, desrasgar, desquebrar seria possível, se o remendo não fosse tão evidente... Porém há, na vida, a possibilidade de recomeçar, reescrever, reinventar, redescobrir...
Inté
Ah, amigo! As cartas ainda existem e sempre existirão. Pois "cartas de amor são ridículas". ;) Enquanto houver amor (e haverá), existirão cartas. Para mães, pais, irmãos, amigos, companheiros. Vou procurar inspiração e te escrever uma qualquer hora dessas, por sinal. :P Com carinho, Polly.
Raquel,
Concordo contigo, mas resta sempre aquele amargor de não haver tentado quando do momento oportuno. Assim, melhor é deixar viver quando podemos, ao invés de ficar remoendo os 'e ses' depois.
Inté!
Polly,
As missivas fazem falta. O tempo dedicado às linhas, a caligrafia, o papel, o ir ao correio, a escolha do selo: um ritual de carinho, que compunha toda uma expectativa de leitura. Não sou saudosista, mas há coisas que a modernidade tirou e substituiu pela praticidade fria.
P.S.: Vou esperar a carta, pode ter certeza.
Beijo, com carinho!
Ai... Clarice, Chico... e Fabrício, com suas palavras brilhantes (inflamadas) q tão bem marca.
Li neste domingo um livro maravilha: O jugo das palavras, de Artur da Távola.
Dps dele, vejo (ainda mais) nos teus versos o verdadeiro azáfama disso a q chamamos Poesia.
Bjo, caro
Caríssimo POETA:
Se experimenta o desejo de "desqueimar essas cartas'é, porque, de alguma forma,elas marcaram sua história.
....................................
Interessante o uso do vocábulo "imbele"! É assim que "vezenquando" me sinto. Mas reajo e AJO!
Grande abraço,
Andrea Marcondes
ERRATA:
Ao postar o comentário, quis me referir à carta "que você gostaria de desqueimar', e escrevi : "de alguma forma ELAS MARCARAM a sua história". (Acho que é porque foram inúmeras as missivas recebidas!/sic!)
SORRY!!!
...............................
Meu abraço,
Andrea Marcondes
Rafaela,
... Foi do título do livro do Artur da Távola que compus o Poética (http://logomaquia.blogspot.com.br/2014/03/poetica.html).
Obrigado pela visita e pela gentileza do comentário, minha cara poetisa!
Beijo!
Andrea,
Evidentemente as cartas me marcaram. Tanto as que recebi como as que escrevi (principalmente as que foram endereçadas a meu pai, quase que um trabalho semiótico). E ímbele somos quase todos, dia sim, dia não. O importante é, como você disse, reagir.
Abraço, com muita 'sodade'.
Andrea,
Suas erratas sempre me trazem um sorriso ao rosto.
Abraço de novo!
Interessante tom de nostalgia em belos versos, tristes contudo.
Estava com saudades de te visitar.
Bjuss
"como posso desqueimar suas cartas?" é uma pergunta instigante...
Há muito e muitos anos, escrevi e recebi cartas de amor, que me fizeram muito feliz naquela época, naquela cidade, naquelas estações. Ficaram só na memória. Foram queimadas num ato intempestivo e relutante, como se o fogo pudesse inaugurar uma nova época. No entanto, só fez arder, por tempos depois, meu desejo de desqueimá-las e, talvez, de revivê-las.
Ana Rosa,
... Você então sabe como me senti. Houve esse tempo de pensar que, nas chamas, haveria libertação. Ledo engano. Ficamos presos na fumaça, débil, que ficou na memória.
Beijo e obrigado pela visita! Volte sempre!
Su,
Que bom que pôde vir me ler por aqui. Que não se passe mais tanto tempo, gosto de sua leitura.
Beijo!
Lindo ... E é por isso que nunca queimo as cartas!
Pat,
E você ainda tem as suas? Recebeu muitas?
Beijo!
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