quarta-feira, 2 de julho de 2014
Inquietude,
Melancolia,
Singularidade
Elegia a um gato chamado Tobias
Antes, eu não queria você.
Minha vida já parecia
abarrotada de afazeres e cuidados,
sem que eu precisasse cuidar de mais alguém.
Nunca algo. Você nunca foi algo, sempre alguém.
Chegou com personalidade,
olhos azuis de minha avó, veja só!
E aquele olhar de esfinge,
querendo me indagar sobre coisas que,
se eu não me cuidasse, ficariam
perpetuamente sonegadas,
sob o manto da rotina.
Eu lhe dei as respostas que queria? Fiz-me entender?
Seu olhar persistentemente azul e o ronrom cavo
nunca me deixaram claro.
Seu arquear-se para um carinho,
o esfregar-se em minhas pernas,
o miado – único e sucinto – não os há.
Você se foi.
Eu não entendo essa perda, essa ausência.
Eu não entendo, mas você parecia entender, Tobias.
O mundo era fácil para você, sistêmico, metódico.
tudo em seu canto, seu lugar.
Passadas descompromissadas sobre o sofá.
O deitar no meio da porta, a interromper o roteiro.
E como Drummond, nunca me esquecerei,
que no meio do meu caminho,
houve você, filhote querido, coisa peluda,
a me ensinar a ser um tiquinho mais humano.
Escrito por
Fabrício César Franco
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18 comentários:
Muito tocante, Fabrício. Eu, que nunca "gostei" de gatos, fiquei querendo ter conhecido esse Tobias. Ele tem ar de Visconte de Sabugosa.
Will,
Obrigado pela visita e comentário.
Tobias tinha - como têm todos os felinos - aquele jeito sobranceiro de olhar tudo (inclusive e principalmente a mim) equilibradamente, sem angústias. Mesmo quando já estava bastante doente, ele ainda me olhava assim...
Mais do que um companheiro, ele foi um grande preceptor, ensinando-me o cuidar, o desacelerar, o tomar a vida pelo peso que ela tem, a cada minuto.
É, o Visconde tinha dessas, né? Ensinar...
Abraço!
Fabrício, a vida leva nossos amores mas acho q sempre depois de cumprida sua legítima missão. Perdas são perdas,n há o q dizer para atenuá-las. Mas, fique em paz! Tudo se ajeita,acredite!!
Ana Paula.
Bjbjbj
Ana Paula,
Primeiro, obrigado pela visita e pelo comentário. Bom saber que estou sendo lido.
Segundo, você tem toda a razão. E o apoio de amigos torna tudo mais leve de ser carregado.
Terceiro, ficam as lições, as lembranças. E isso é o que importa.
Beijo!
Que bela elegia! Seres tão sábios não são? Continue Tobiasando por aí pra aquecer o espaço deixado. Um abraço e um miau.
Oi, Bidu!
Obrigado pela visita e comentário. Por enquanto, a saudade e a lembrança vão aquecendo o espaço.
Abraço, com carinho!
Fabrício, as suas palavras são doces e tocantes que o sentir é inevitável.
Eu pude ver os passos mansos do Tobias caminhar pela poltrona entre livros, letras e papeis. Um caminhar leve, assim como as suas palavras.
Lindo e belo
Abraços
Suzana,
Muito obrigado pela visita e comentário. Que o motivo de sua visita por aqui, Tobias, a faça ficar por mais tempo. Passeie pelas letras e escritos, tome o tempo que quiser. É bem-vinda!
Abraço!
Obrigada Fabrício, e voltarei sim!
Abraços!
ah... :(
só assim, na entrega vivida, conhecemos o poder esfíngico sob 'o manto da rotina' [e da retina] da essência linda de um bichinho [muito mais que isso] q nos deixa.
sinto muito e compreendo o pesar, Franco.
Tobias sempre Será.
um beijo, poeta
Suzana,
Que bom que aceitou o convite...
Abraço!
Rafaela,
... Na entrega - sem pedido de troca - que nos é dada, assim, aprendemos mais de nós mesmos. E foi assim, com Tobias.
Um beijo, poetisa.
Fabrício,
Hoje, vou repetir o comentário...
O luto é coisa dolorida que só... Sejam gentes, sejam bichos deixam ausências... Na concepção Drummondniana: "Ausência é um estar em mim". Portanto, caro poeta, Tobias estará, por muito tempo, no mínimo, na saudade. Meus sentimentos.
Bj
Raquel,
Obrigado por trazer Drummond aqui, novamente. E sim, é dor, mas também é a leveza da saudade tomando conta, a cada momento que a dor se torna menos presente - inversamente, a presença dele se torna mais saudosa.
Beijo e obrigado pela visita!
Caríssimo POETA,
Ao ler esta ELEGIA, constato: Poetas fazem, com ARTE, a CATARSE de suas dores e de nossas dores.
....................................
Como já lhe disse:aos poucos, a tristeza e a saudade vão se tornando suportáveis. Coragem!
Grande abraço,
Andrea Marcondes
Andrea,
... Não há como negar a verdade de suas palavras. Estou chegando no nível suportável. O aprendizado foi o maior legado.
Abraço, com carinho.
Sinto muito, vizinho, era visível o apego de vocês... abração
Oi, Zroberto!
Obrigado pelo comentário. O apego se tornou saudade e um desejo de que todos os donos de animais de estimação sejam felizes com os seus.
Um abraço!
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