Nômade, contra os ventos,
na vertigem dessa madrugada,
que passa seu tempo
colocando nos faróis uma dança
de sombras e sugestões.
Vou esbarrar comigo por aí,
aparando minhas arestas
para não cair do corpo.
(A realidade cadastrada na memória
é falha e já nem sei mais quem sou).
A metrópole em esclerose
desorienta meus gestos,
exaustos de tantas etiquetas.
Enjoado da poética mortífera
dessa era de hipérboles,
faço meu último movimento
sob o céu instável:
eclipso-me na incerteza
dos plurais.
(Já não quero ser “eu”,
é mais fácil ser “nós”).
Escrito por
Fabrício César Franco
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14 comentários:
Poeta,
Para sobreviver à loucura dos dias, só sendo "nós " mesmo, dividindo o peso das angústias e inquietações.
Como sempre, gostei muito!
Beijos,
Indi
Versos e imagem em diálogo íntimo.
Que bonito!
Também gosto muito da ideia de "nós".
Mas me pergunto:
se o "eu" se descontrói,
como pode o "nós" se sustentar?
Retorno, assim, ao começo do poema:
ignoramos quem somos...
Um grande abraço, poeta!
Sempre uma alegria vir aqui!
Indi,
Obrigado por ter comentado. Sabe que isso muito me faz falta.
Beijos!
Poetisa,
Que alegria ver um comentário seu por aqui.
Sua dúvida também é minha, por isso busquei o eclipse da incerteza no plural. Nós não se sustentam se cada eu. Mas na mixórdia quotidiana, até parece que sim, ainda mais nas atribulações urbanas (e urgentes).
Grande abraço e volte sempre!
Que lindo esse final. Quando crescer, quero ser assim. :-)
Oi Nanda,
Obrigado pela visita. Este poema foi escrito quando eu ainda "era pequeno". Já tem um tempinho... rs rs rs
Abraço e volte sempre!
Caríssimo POETA,este poema retrata seu talento, MINEIRO!
"Minas é dentro e fundo!" (C.D.A.).
É este o mundo em que vivemos: complexidade dos apelos; consumo, aparência... E me vem aquela "fala" em dialeto caipira: "oncotô? quencossô? proncovô?"
Na verdade, somos NÓS os responsáveis por esta CASA COMUM.
..............................................................................Oportuno o TEMA da CFE/2016: "Casa comum: nossa responsabilidade"("Governo e povo/trabalhando juntos/na construção da nova sociedade").
Grande abraço,
Andrea Marcondes
Poeta,
Na roda viva da modernidade, ser eu ou nós exige cuidado. Há tanto holofote e tanta sombra que confunde as vistas. Por vezes, trombamos uns nos outros a esmo. Perdemos a oportunidade do encontro.
Enfim, que a vida nos permita mais encontros que tombadas... com o eu e com o nós.
Bj
PS.: obrigada por abrandar essa fase difícil, por meio das letras.
Andrea, caríssima:
Vezes há que o rumo desta senda é tortuoso e torturante. Não sabemos direito para onde vamos. E acabamos por construir fronteiras (de toda espécie) onde não as há.
Mas há algo em nós, como um GPS interno, que acaba nos guiando para onde devemos ir (chegar).
Abraço, com carinho!
Raquel,
Não poderia ter dito melhor: "que a vida nos permita mais encontro que trombadas"!
Beijo e obrigado pela visita!!
É, Franco.. É preciso criar escapes a essa nossa contemporaneidade absurda. Nos seus versos pude, ao mesmo tempo, pensá-la, bem como dela livrar-me. Nada mais posso querer...
Lindo poema.
Bjos
Rafa, cara poetisa:
Obrigado pela visita. Por onde tem andado? Por que não tem mais escrito? Ando com saudades de ler você.
Beijo, com carinho!
Ah, Franco..tb sinto. Ando em hiato até de leituras (não só poéticas; tlvz uma das causas principais da não escrita, né?). Mas consegui concluir, no fim do ano, meu segundo livrinho - palavra atômica -, q fica em repouso até eu poder publicá-lo...
Por ora, sigo só com estudos.
Bjo, caríssimo
Rafa,
Fico no aguardo, quando sua verve permitir, de poder ler o que escreveu. E quais estudos são esses, que têm tomado seu tempo? Espero que sejam alavanca para melhores dias (leio nas entrelinhas do que me escreve, talvez erroneamente, que os dias parecem menos poéticos).
Outro beijo, com carinho!
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