Quem não vê bem uma palavra,
não pode ver bem uma alma”.
(Fernando Pessoa)
Eu acordo numa reentrância da noite,
minha boca como uma gaveta vazia.
São três da madrugada
e a cama é um país estrangeiro,
mesmo idioma, mas numa inflexão diferente,
este solavanco para insônia
um indício.
Eu me decalco em passos
casa afora, buscando
não sei o quê. Sim,
há sempre os que encontram
e aqueles, como eu, que nem sabem onde puseram.
Algo precisa vir ao escrito,
tatuar a brevidade em coisa eterna,
criar nexo.
(Você nem sabe o quanto
eu gaguejo por dentro).
E assim procuro
uma palavra que misture
peripécia com insurreição,
rasgo de se erguer o sétimo véu
além das realidades
tangíveis da vida diária.
Nada extenso, só
a contraparte estética da ocasião,
algo que informe
seja em que dialeto for.
Saltimbanco,
ele me aparece,
dublê da eternidade,
espaço de cronometragem impecável,
solução aguardada com interesse:
o & insiste
nessa promiscuidade,
nos lugares de encontros de estranhos,
nenhum conhecimento prévio como condição.
Um mero sinal
para provar
que nenhum encontro
é inconsequente.
6 comentários:
Caríssimo POETA,
Consegui "absorver" a ansiedade, a insônia, a busca dos signos... e, sobretudo, a excelente conclusão:"...nenhum encontro é inconsequente".
Mas confesso minha incapacidade para "traduzir" o emprego do símbolo :& (ampersand) como título(sic!)
Grande abraço,
Andrea Marcondes
Andrea,
Foi proposital. O & não é popularmente usado para unir (ao menos) dois nomes, em instâncias comerciais? E o poema não fala de encontro? Pois então, o & é o símbolo deste encontro (alguém + alguém, ou, usando o &, alguém & alguém). Ficou claro agora?
Abraço, com "sodade"!
Poeta,
Sou muuuuiiito íntima de Morfeu... portanto, insônia me apavora e, em seu poema vejo expressa esse meu pavor. Espero que suas insônias sejam produtivas e rendam liiiiinnndos versos.
Bj
Inté
Raquel,
Também não lido bem com a insônia. Já me foram produtivas, quando eu ainda morava em Belo Horizonte. Mas eram outros tempos, havia maior vigor e eu não precisava de tanta energia no dia-a-dia. Outra época agora, preciso de cada polegada de ânimo (ensinar é ter vitalidade de triatleta!) e o sono me é muito necessário.
Obrigado pela visita! Volte sempre!
Beijo!
bravíssimo, poeta!
me remeteu a minhas épocas notívagas, em q 'a gaveta da vazia' me proporcionava, ao menos, explorações manuais, tateios no escuro à cata da palavra ou algo mais...
estou quieta.
o fim de ano me torna ainda mais reclusa; o prenúncio da cíclica mesmice geral das coisas para o ano me afeta.
bom natal
bjs
Rafaela, poetisa,
Como tem passado? Realmente, há muito que não leio algo novo de "sua lavra". Sei que é necessário essa reclusão, esse calar das palavras, para fazer massa crítica para voltar a escrever. Que não demore, portanto. A mesmice geral das coisas pode (e deve!) sucumbir frente à poesia. É o alento que temos.
Beijo e um Natal mais humano e feliz!
Postar um comentário