Recluso entre palavras,
acho-me desimportante.
Atrás de alguma conversa
nesse desacerto, tenho
depositado negligentemente
as palavras nos ninhos
sinápticos de quem me lê.
Mas que raça de fênix é essa,
cujas asas invisíveis não se agitam
no pós-chama da leitura?
Bem sei que o silêncio
também é um idioma,
contudo eu me calco
nesse acaso de estar
sempre na iminência,
naquela espécie de véspera
: onde está seu comentário,
ainda que trivial, conciso, imposto?
Pois saiba que vivo
de me riscar
nesse arabesco de procuras,
contundente,
de quem se observa
no espelho por detrás.
E somente esse rastro no texto,
essa pegada fresca,
essa digital acesa
dá conta da vastidão do deserto
que a nós todos atravessa
: a tristeza das coisas,
o patético sempre presente
e à espreita logo abaixo da superfície da vida.
O que pretendo é somente
saber o que é
e o que não é
enquanto tropeço pelos dias.
Fico assim
à mercê de sua misericórdia,
indulgência, anistia –
meu indulto irrefragável.
Por que não diz palavra?
10 comentários:
muitas vezes,
quando leio as suas
as minhas desaparecem
deixam-me em um estado de reflexão
onde o falar
não cabe palavra
todo o momento é ocupado por sentimento
Para acalentar sua impaciência, sua ânsia por palavras, digo: "Supercalifragilisticexpialidocious"
"Bem sei que o silêncio
também é um idioma."
: adorei, inteiro!
Talita.
Suzana,
Ainda assim, é ótimo saber que ainda lhe restaram algumas, para seu comentário.
Beijo!
Mano bróder,
... Não consegui conter o riso. Obrigado pela palavra!
Talita,
Muito grato pelo seu comentário! Ótimo saber que encontro ressonância em sua leitura.
Caríssimo POETA!
São raros os que conseguem LIDAR COM PALAVRAS, como você o faz!
Você jamais pode se achar desimportante, porque as RESPOSTAS não chegam!
São muitos que, como eu, já têm conhecimento de seu TRABALHO e o admiram.
Grande abraço,
Andrea Marcondes
Andrea,
Os comentários nos posts são a melhor paga para um blogueiro, minha cara. Sem eles, mal sabemos se somos ou não lidos... Por isso, a desimportância, vezenquando...
Abraço!
A busca do saber "se é ou não é" é o mais instigante da vida! Cresci ouvindo que a física explica tudo! Para ela, precisa da matemática, e a fantástica matemática precisa da palavra. Da palavra e as coisas vejo a linguagem, o elo possível ao Homem conhecer a si. Como bem observava Foucault, a linguagem responde, amigo!
Viajante o seu texto! Amei.
Regina,
Na busca dessa conectividade causada pela leitura é que permaneço escrevendo, querendo lançar cordas às praias de meus leitores, unindo-nos na palavra.
Obrigado pela visita!
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