Encontrei você num fio de cabelo
seu em minha blusa de moletom
azul outro dia. Pensei de início
que era meu, até que o alcancei
para jogá-lo fora. Uma longa linha
de pálido vermelho que se estendia
para sempre, agarrando-se a mim até
o último segundo, a estática entre nós
praticamente irrompível, no intenso liame
que nos enlaçava como se só através
do toque um não se perdesse do outro.
Ao termo de seu comprimento,
o fio se viu livre de repente, e eu vacilei
por um ligeiro instante, reivindicando
um momento de luto, um esboço de lágrima,
antes de lançá-lo ao vento.
Escrito por
Fabrício César Franco
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18 comentários:
Uma declaração de amor como poucas... Uma saudade como muitas... Um amor inesquecível... Poesia linda.
Bjuss
Rolou uma lágrima agridoce e junto com ela uma angústia aguda no peito. Não sei se é saudade ou dor de amor.
O seu versar é tão lindo!!
Beijos
Poeta,
Remeteu-me a uma cena do filme GATTACA... Num instante, tudo voa e se perde. Por vezes, isto é muito bom, noutras, desastroso.
Bj
PS. Adoro o filme... Já vi sei lá quantas vezes... Indico.
Su,
Obrigado pelos elogios (ainda que os ache imerecidos). O bom de se desprender é isso: deixa só o que é bom na saudade ficar em nós, não concorda?
Beijo!
Suzana,
Que a lágrima seja daquelas que lavam a alma (e o peito). Apesar da rima, amor e dor não combinam, a meu ver.
Obrigado pela visita!
Beijos!
Raquel,
Sim, me lembro de Ethan & Uma em Gattaca (e Jude, também, claro). O bom é quando as lembranças pesadas voam e as leves nos restam.
Beijo!
Caríssimo Poeta,
Expressivo e VERDADEIRO o seu poema:um mínimo objeto resgata toda uma história..."Cést la vie..."
.................................
Mas, sugerem os entendidos (Psicólogos): não estagnar no passado, no sofrimento; usá-lo como trampolim (sic).
Grande abraço,
Andrea Marcondes
Andrea,
Os experts estão corretos. O trampolim pode nos mandar para distâncias maiores e melhores. É só ter a vontade de aprender com os erros.
Obrigado pela visita!
Abraço, com carinho!
Que delicadeza, Franco! Cada movimento...
Só um poeta com a sua sensibilidade faz algo tão singelo ser imensuravelmente bonito.
Beijo
Rafaela,
... Acho que essa delicadeza que você vê advém da dor de haver vivido. Uma lição aprendida. Algumas delas nos dão essa 'nova pele', sem tantos espinhos, quando aprendemos que é mais leve não carregá-los.
Obrigado pela visita. Beijo!
Wise man... Que o universo conspire a favor, afinal "ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria". ;)
Jayne Bruna, obrigado!
Finalmente descobri o 'tamanho exato de sua pegada' por aqui. A passagem bíblica me deu a pista que faltava (embora as iniciais já fossem pistas claras, mas míope como sou, não enxergo bem de longe - rs rs rs).
Obrigado pela visita e comentário.
Um beijo!
Porque existem coisas das quais simplesmente não podemos desvencilhar, mesmo depois do último fio.
Como é bom estar de volta a lê-lo, Fabrício, com toda essa beleza que você sempre imprime na captura do momento e do sentimento.
Abraços
Van,
Eu que fico muito feliz com seu retorno por aqui. Seja sempre muito bem-vinda!
Abraço!
O fio, testemunha da despedida.
Renata,
O soçobro dela. Arqueologia de uma relação.
Beijo!
Fabrício querido,
fico feliz em poder lê-lo e conhecê-lo. Sua sensibilidade e delicadeza me emocionam. São duas qualidades raras nesses dias em que, mesmo sem querer, buscamos, por vários motivos, não sentir, nos anestesiamos diante da vida e ligamos o piloto automático em ritmo frenético. Duas qualidades suas que transbordam para o poema.
Como sempre, um texto excelente!
Um beijo!!
Tarciana.
Tarci,
Obrigado, uma vez mais, pela visita ao Logomaquia. Agradeço, também, pelos elogios, ainda que não ache que os mereça (não por modéstia forçada, mas porque ainda tenho muito o que aprender no ofício de poeta). Ter sensibilidade e delicadeza podem ser predicados para escrever, mas não são suficientes para trazer à tona um bom texto. De todo modo, permaneço tentando.
Um beijo!
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