domingo, 22 de setembro de 2019

Oblívio


A tristeza vai nos sendo 
talhada no seio da noite:
um sentimento fluido e denso 
que se alastra, minuto a minuto.

A escuridão, de encontro 
às vidraças embaçadas, é 
pontuada pelos esqueletos suspensos
das constelações de Virgem, Leão e Gêmeos.


A Lua transborda de saturação
na miríada de poças que meneiam
sem pressa pelo asfalto molhado.

Nos delgados obeliscos de vidro e aço, 
brotando do solo como uma enfermidade de pele 
rumo ao céu escuro, as poucas luzes acesas parecem 
escarnecer do mundo tantos andares abaixo.
As igrejas, com seus santos esculpidos
(como se a sustentar nos ombros
o peso da falta de fé dos transeuntes),
não oferecem refúgio aos seus parcos fiéis.

A luminosidade achacadiça 
de um neon semiapagado 
planta-me sombras pelo corpo, 
como vestes exageradas. 

E nisso sou mais um
pelas artérias desse coração combalido
a que chamam de metrópole.



) Poema escrito há 32 anos, 
ainda em meus tempos de faculdade de Comunicação Social, 
eu recém-chegado à capital mineira. (

2 comentários:

Rafaela Figueiredo disse...

Uau!
Parece uma próloga cena cinematográfica. Fui visualizando quadro a quadro.
Lindo, Franco!

Bjos

Fabrício César Franco disse...

Poetisa,

Fico muito grato com a sua visita. Agradeço, também, o olhar interessado pelas minhas palavras. Volte sempre!

Um beijo!

 
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