O poema é alvenaria : implausível ereção de castelos, engenharia reversa, o desfazer da forma para engendrar sentidos – uma leitura.
O poema é percurso : jornada por sendas incógnitas, paisagem movediça, extravio de rumos, inventário de quimeras degredadas e anistiadas – rasura e reescrita no mesmo apoucado espaço.
Respeito, antes de tudo: gentileza em meio à raiva, polidez, ainda que irritado – pois a paixão é mesmo esse fogo e o amor fica pouco mais além, entremeado de paciência e esforço.
Para lá das quimeras de se estar sempre certo ou errado, há um campo (como já disse Rumi) e é só aí que a relação floresce.
nos carregam em sua sintaxe, clareando cada palavra, fazendo o sentido se esgueirar entre e ao longo da leitura, não obstruindo mas nos deixando só a emoção do entendimento como sequer houvesse algo a ser lido ali:
Deve ter sido escrita a cinzel em algum lugar em meus pergaminhos, num mais fundo em mim, que estava reservado para outra caligrafia, após tentames falidos e, apesar disso, foi se refazendo devagar à sua imagem, com carinho e simpatia e encanto, com toda a surpresa que faz a vida valer à pena, demorando-se nas reentrâncias de um sorriso desbragado e num olhar que me fita distante e tão aqui.
E então, subitamente, você é – linda harmonia ainda que cacofônica – para todo mundo ouvir musicada em meu coração.