quinta-feira, 11 de maio de 2023

Palimpsesto


)
Ou todo homem nasce original e morre plágio.
(

Sou refém de minhas referências,
do que li ao longo da vida –

das bulas de remédio
aos compêndios da alta ciência,
folhetos,
folhetins,
antologias.

Estratos de palavras
acumulam-se
e vão se sedimentando em mim,

a ponto de se mesticizar
tão de todo
que é infactível
demarcar os confins

entre a coletânea e o ineditismo.
Como separar
as frases que plantei
daquelas que colhi
em florilégio alheio,
se crescem no mesmo
buquê de vocábulos?

Existo nessa folhagem,
entre o abrir e fechar de páginas,
redigindo capítulos
de um livro vivo,
essa casca tênue que sou,
reescrita
todos os dias.

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