Você,
que transforma a angústia
em saudável perspicácia e defende tudo
o que compreende em palavras:
sua condenação virá pela língua,
na erosão lenta mas indiscutível
que dimana de cada decepção.
Você,
que consome informações
em crescente desgosto, sem ao menos
ter a percepção de como tempo devora
só os desamparados e se dá a si mesmo
seus próprios mandamentos –
[não sou -fóbico ou -ista (insira aqui seu prefixo), mas...]:
atente para o momento em que não fizer sentido
a natureza das coisas crispadas em seu íntimo.
Não é preciso se apressar, nem jogar fora
a verdade mais persistente:
“amai-vos uns aos outros”,
“somos todos iguais perante a Lei”.
Só se lembre bem de como era a vida antes:
obscurantismo, ignorância, medo
da escuridão como devorador de gentes,
o trovão que era reprimenda dos deuses,
um panteão inteiro a idolatrar em sacrifício.
Diga-me então como você é capaz
de chegar a este ponto, para trancar
as portas da história e não se reconhecer
no seu povo – os outros! – e como
desaprendeu as lições.
Escrito por
Fabrício César Franco
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12 comentários:
Poeta,
Nestes tempos de irracionalidade, resta-me torcer para que o lema * amai-vos uns aos outros" torne-se realidade. Que a igualdade seja mais que uma palavra no dicionário.
Bj
Raquel,
Nestes tristes tempos, o que percebo é que até ler sobre o assunto tem afastado as pessoas. Nunca vi tamanho desinteresse aqui no Logomaquia.
Fico feliz que, ao menos, você teve a paciência de vir e comentar. Obrigado!
Fabrício, triste realidade, mas a espécime ainda evolui em outros aspectos, em outros meios. Que nos seja permitido sempre fazer parte desta outra tribo. Obrigado pelo convite à reflexão!
Eliana,
Eu que lhe agradeço a vinda ao Logomaquia, deixar sua opinião. As pessoas não têm tido esta coragem de se posicionar, ou, quando a tem, acabam por se colocar erroneamente. Que façamos, sim, parte da outra tribo. E que esta não mingue, não se extinga.
Abraço.
Caríssimo POETA,
Sem dúvida, o desrespeito ao próximo (seja ele quem é; e como é!) constitui FALTA GRAVÌSSIMA!
...........................................................................
A profundidade de seu texto me fez pensar, reler, analisar...
Só agora tive coragem de declarar minha "visita".
Fiquei , em princípio, como o personagem Fabiano (em VIDAS SECAS, de Graciliano Ramos): "...isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim,contanto,
etc. É CONFORME!"
Reafirmo o que você escreveu:
"a verdade mais persistente:
"AMAI-VOS UNS AOS OUTROS"
"SOMOS TODOS IGUAIS PERANTE A LEI".
Grande abraço, com admiração,
Andrea Marcondes
Caríssima Andrea,
... A alteridade deve ser PRIMORDIALMENTE respeitada, ainda que não a compreendamos no todo. Aliás, a busca desta compreensão já traz, em si, todo um propósito de vida. Ser e deixar ser. Assim, as linhas paralelas possam, nalgum momento, se intercruzar, em respeito e tolerância. Que as verdades persistentes sejam vividas, em suas inteirezas.
Abraço, com carinho.
Bravo!!!
Ariana,
Muito grato pela visita!
Olá Fabrício,
Ouvindo aqui a baiana Pitty, me lembrei imediatamente do seu poema quando ela disse: "Quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra". Ela resumiu bem a ideia do julgamento e da reciprocidade. O primeiro jorra em abundância, a segunda está realmente em falta.
Grande beijo!!
Tarciana.
Olá, Tarci.
Obrigado pelo comentário. Sim, Pitty foi mais sucinta!
Beijo!
Uma reflexão brilhante, Franco!
Pq une à poética natural de sua escolha de palavras o cru sentido da realidade.
Sempre me recompensa vir aqui.
Sinto falta, mas o mundo blogger anda distante do meu universo ultimamente...
Triste, mas verdade.
Um beijo grande
Rafaela,
Espero que sua ausência seja temporária. Há, sempre, a necessidade de ser ler gente como você. Que não haja distinção severa entre os mundos, bloggers e outros. Que a poesia extravase os limites e caia um pouco por aqui, para nossa leitura.
Beijo grande, com carinho!
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