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do Diário do Confinamento
(
Lá fora, o medo e a espera. Do pior.
Aqui dentro, meu privilégio de estar
na frágil segurança do meu pequeno mundo:
livros, internet, comida na geladeira,
aquele incenso de sândalo que nunca abri.
Lá fora, a dúvida e a desinformação.
Aqui dentro, do que se lê ou ouve
é preciso filtrar e filtrar e filtrar,
até que a incerteza esteja em doses palatáveis
e não nos envenene com conspirações
além da conta.
Lá fora, teimosia e veleidades, mesquinhez e egoísmo
dançam, mãos dadas, rosto colado,
disseminando o vírus, a dor, a morte.
Aqui dentro, a solidão e o temor
de nem poder me aconchegar
num abraço de despedida,
caso algum dos meus se vá.
Lá fora, o pobre, indefeso. Alvo fácil.
Aqui dentro, escrevo apenas.
Justifico-me: é para tentar manter a sanidade.
Qual a medida de minha irrelevância?
2 comentários:
Muitas autorreflexões, meu caro... Tomara q isso nos ajude a ser melhores do q nós mesmos.
Lindo poema!
Assim espero, poetisa. Assim espero.
Obrigado pela leitura e pelo comentário!
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