quarta-feira, 2 de novembro de 2016 6 comentários

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Quem não vê bem uma palavra,
 não pode ver bem uma alma”.
 (Fernando Pessoa)

Eu acordo numa reentrância da noite, 
minha boca como uma gaveta vazia. 
São três da madrugada 
e a cama é um país estrangeiro, 
mesmo idioma, mas numa inflexão diferente, 
este solavanco para insônia 
um indício. 

Eu me decalco em passos 
casa afora, buscando 
não sei o quê. Sim, 
há sempre os que encontram 
e aqueles, como eu, que nem sabem onde puseram. 

Algo precisa vir ao escrito, 
tatuar a brevidade em coisa eterna, 
criar nexo. 

(Você nem sabe o quanto 
eu gaguejo por dentro). 

E assim procuro 
uma palavra que misture 
peripécia com insurreição, 
rasgo de se erguer o sétimo véu 
além das realidades 
tangíveis da vida diária. 

Nada extenso, só 
a contraparte estética da ocasião, 
algo que informe 
seja em que dialeto for. 

Saltimbanco, 
ele me aparece, 
dublê da eternidade, 
espaço de cronometragem impecável, 
solução aguardada com interesse: 
o & insiste 
nessa promiscuidade, 
nos lugares de encontros de estranhos, 
nenhum conhecimento prévio como condição. 

Um mero sinal 
para provar 
que nenhum encontro 
é inconsequente.

 
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