domingo, 3 de março de 2024 8 comentários

Teofania


No escuro, o menino perguntava 
          (o que é o mundo?)
apenas para escutar sua tia afirmar
          (uma casa dentro de uma casa)
ou simplesmente para sua mãe responder
          (uma ala inacabada do céu).


Como alguém poderia adivinhar,
naquela casa, e nas outras que se seguiriam,
que a questão encontraria
seu começo de resposta
crescendo dentro daquele que perguntou,
aquela criança insone,
o predileto da noite?
Mais tarde, já adulto
deitado na assonia,
ele se pergunta outra vez,
meramente para ouvir
o silêncio assaltá-lo


          (essa noite se arqueando sobre sua admiração,
          o fado próximo que se achega na alcançadura)


e se lembrar que durante
essa parca intermitência,
esse imenso adeus
que se prolonga,
cada um deve fazer
do seu peito um sacrário,
antes que uma visita
tão estrangeira e esquiva
como Deus se avizinhe.


 
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