domingo, 30 de agosto de 2020 2 comentários

Este lado do paraíso


Não o beijo,
mas o calor dos seus lábios em minha pele.
Não o físsil de suas pernas,
mas o compromisso de mais estros arraigados.
Não a cópula,
só o cio que vaga lasso pelo corpo.
Cintila na íris o flerte,
dança de subentendidos.
No duelo com o desejo,
saco antes da dúvida:
com a língua em riste,
mergulho minhas papilas
numa galeria de obscurantismo
e viscidez, provo do sabor da fruta
à véspera do próprio açúcar.

De tal modo amo,
que faço o próprio Eros
abrir com faca
o esplendor de outra manhã.

sábado, 15 de agosto de 2020 4 comentários

Flavescente


Caprichosamente,
o elenco da tarde
polvilha de mínimos sons
um trinado, um sopro,
um rumor ao longe

céus fartos de amarelo
quase pálido e embaçado
daqueles que só se veem
em obras gastas e por pouco
totalmente preteridas em baús

esmorecendo
vagarosamente
o fluxo dos minutos até
a teia de aranha
cessar de se agitar
e, tanto o inseto condenado
e eu nos darmos como aceito
que nada há mais o que fazer.

 
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