quarta-feira, 3 de janeiro de 2018 4 comentários

Calado (quando doem as palavras)


Minha voz dorme “em timidez,
envolta na faringite que veio
de visita no início da semana”.
O silêncio adentra minha vida
com truculência, se faz compulsão,
nada há que eu possa fazer.
Refém da afonia,
meu vocabulário restrito,
engulo o não-dito
como quem rouba uma fruta e,
como criança dando às coisas outro nome,
refaço o mundo em letras mudas.

Natural sentir-me triste,
dia nublado.

Não se guardam palavras.
Quando poupadas, decompõem-se
na própria avareza. E doem
de o cabelo cair,
de o olho arder,
de querer vomitar.

Dói de respirar,
suspiro de nimbo
para fazer chover.
Inevitável
: alma alagada.

 
;