terça-feira, 13 de dezembro de 2011 12 comentários

Atendimento telefônico


Aperte 1 para a impaciência com o menosprezo
dos atendentes de todos os serviços telefônicos,
sua falta de preparo ao lidar com pessoas,
sua ineficiência cava, ensinada e repetida,
como se isso fosse um trato profissional requerido.


Aperte 2, 3, para a renúncia do seu tempo, 
que se esvanece em sinfonias inanes de saxofone,
música de elevador, transformando tudo num ruído
oco, sem sentido, até você perder o propósito:
para quem estou ligando mesmo?


Aperte 4, 5, 6 para insatisfação garantida,
de ficar perdido diante de tantas opções de discagem,
como defronte a um menu indigesto,
cuja comida nunca mata a sua fome,
cujo sabor só promete a náusea vindoura.


Aperte 7, 8, 9 para a vontade de esganar
o atendente, o supervisor, o chefe de operações,
todos assentados no sarcasmo, podendo fazer algo,
mas – ainda assim – presos no conluio de postergar
e até mal usar o idioma, num gerundismo canhestro:


“amanhã estaremos mandando o técnico à sua casa”.

sábado, 10 de dezembro de 2011 10 comentários

Nagual



Gostaria de me raptar
não sei como
dessa aflição
de dezembro, desse
céu à régua,
ilhando tristes,
dessa euforia
desgovernada, desse
estrangulamento;
o rufar de tambores
num crescendo,
que só faz
contar
regressivamente
os dias para
o próximo
calendário.


quarta-feira, 7 de setembro de 2011 2 comentários

A propósito de sete de setembro


Compilado alhures
(

Pátria
é uma dor
que nossos olhos
ainda não
aprenderam a chorar.

terça-feira, 23 de agosto de 2011 6 comentários

Fluvial


 )
Às margens do São Francisco, dez anos depois
(

A surpresa, o engasgo do instante. 
Eu simplesmente não estava preparado 
para tanto azul, assim tão caudaloso, 
nem para a majestade de tanta água. 
Meus ribeirões sempre foram cheios de lodo, 
estanques e sóbrios, 
nauseabundos pelo esgotamento 
paulatino e axiomático. 
E agora, esse rio prestes nos olhos 
vem me percorrer com uma força zen 
tornada manifesta, um deleite 
de dilatar as pupilas. 
Agosto estua e tudo 
imprime enredos na torrente
: conluio de fluxos que me fizeram 
desaguar no desenfado destas margens.

quarta-feira, 13 de julho de 2011 10 comentários

Composição da cidade


À janela,
como James Stewart no filme do Hitchcock.
Deixo meus olhos disponíveis
e inauguro a temporada de observação
“comme il faut”.

A cidade é explícita
e não se faz de rogada,
revela-se toda.

A poluição que a veste
é uma forma dela se dizer,
uma apresentação.

Questão de personalidade,
de inerência. Porém,
e talvez por isso,
o verde prospera violentamente,
seduzindo a vista,
gulosa por sombra.
O amplexo dos bulevares
enche os pulmões de preguiça:
longos, lânguidos,
realçam o asfalto,
insinuando mistérios.

O que virá além da próxima curva?

O melhor que se faz aqui
é entregar-se às próprias pernas
e errar anônimo pelas ruas,
sem outra preocupação
que o repouso do espírito.
Isso proporciona a liberdade de movimento
que geralmente o trânsito subtrai ao passeante,
degradando-o a simples pedestre.
Passear é um ato gratuito -
sem desinteresse, não há contemplação.
E contemplar é o que se faz de melhor:
são muitos os rostos,
vindos de todas as partes,
Babel de origens.

Essa foi minha morada.
Cava e transfinita,
a cidade, à verve do texto,
se me impõe num ninho,
sob as imagens da retina.

(Volto à Ipatinga, 25 anos depois...
Cidade outra, 
ainda que a memória a guarde, 
mesma.)
quarta-feira, 25 de maio de 2011 8 comentários

Coito incontínuo


As janelas se sufocam em cortinas. 
O turvo e tão tangível
tentáculo de sua nicotina
correndo hostil contra minha narina,
os lençóis embrulhando sua cintura e seios,
seu cabelo em desalinho.
Você avançou sobre meus vinte e poucos anos
como se não houvesse nenhum outro lugar
para procurar o que você buscava.
Agora, na volta de todas as coisas,
bumerangue kismet,
você inscreve linhas momentâneas
na linguagem do meu desejo,
como se nunca houvesse partido.


Já sou outro, 
você é quase uma incógnita.
Não há nada aqui que nos lembre quem fomos.
Estamos na contravenção dos fatos
: você, abandonada à sorte
de um relacionamento fracassado;
eu, consolidando posições em outro peito.
Eu, que selei promessa
na infância contra o cigarro;
e você se esfumando em tabaco.
Você querendo reviver
um tempo que não tivemos;
eu, tão somente retendo
o tátil do momento que não
pude ter dez anos antes.
Nesse rufo de tambores,
o impronunciado é a desforra
contra o que não vivemos
e nossos corpos nus,
um plagiato de paixão.


                                                                               Foi só sexo.

E, contudo, foi mais.
Eu que já fui um
cavaleiro em busca do Graal
agora sou apenas
uma casca de armadura,
com um simulacro de incumbência
a me ditar os dias.
Você me deu a alforria
que eu não precisava.
Eu lhe dei um prazer transitório.
Essa história já deveria
ter sido contada em outras épocas,
ainda no tempo em que somente
minha língua havia em sua vulva.
A saliva secou há muito.
Ficou só a lia,
cicatriz amarga como fel.

quinta-feira, 28 de abril de 2011 10 comentários

Receituário


)
Um poema
sob influências.
(

Desconfie do imperativo,
viva no indicativo,
pense no subjuntivo,
sonhe no infinitivo.



quarta-feira, 13 de abril de 2011 16 comentários

Guloseima


 )
Para a minha amantíssima Ivany de Araújo Bonfim,
Dona Ervanildes,
vulgo “A Damascena”,
Tia maior
(

Dizer que ela é quituteira
é menosprezar o todo
de sua ciência. É claro
que ela negará essa informação,
como quem desdenha da própria receita,
contando que errou a mão.
Mas basta provar de seu gnocchi bolognese,
sua broa de fubá com erva-doce,
sua torta de amendoim
eternamente presente nos aniversários de meu irmão,
meu bacalhau com batatas
que fora marinado no leite
para perder o sal desde a véspera –
acepipes mil que se multiplicam
em cores e formas
na cozinha sempre atarefadamente alegre –
para se depreender a seriedade de haver paladar.

Ela vai dizer que são orexias de sobrinho,
a fome da saudade exagerando o sabor.
Não.
Pois mais do que a comida objetiva,
o doce e o salgado que desliza
em delícia pela língua,
é a receita da iguaria sempre
diferente que ela faz surgir
de seu desmesurado carinho
que me faz faminto por seus petiscos.


terça-feira, 12 de abril de 2011 14 comentários

Das suas roupas


É claro que são conchas vazias,
sem esperança de animação.
É claro que são artefatos.

Mesmo se meu irmão
e eu vesti-las ou
se as dermos para outrem,
elas serão sempre
suas roupas sem você,
como seremos, sempre,
seus filhos sem você.


(20 anos sem você...)

domingo, 10 de abril de 2011 6 comentários

Reverberação


Senhora loquaz,
minha mãe articula
meu futuro
nas suas orações
e silencia
minha saudade.


(Felicíssimo aniversário, minha mãe!)

quarta-feira, 6 de abril de 2011 12 comentários

De um amor sem piedade


O amor está morto. 
E quem escreve poemas,
nesse tempo de
átimos e átomos,
está disparando no vazio.

Mas
o verbo amar,
cruel,
acossa-nos
por onde quer que vamos.


domingo, 3 de abril de 2011 10 comentários

Bolero


Eu sou depois, 
                       quase quando.
Ela é demais,
                       onde pleno.

                       Estou ainda,
versículo vinte.
                       Ela permanece,
século vinte e um.


terça-feira, 29 de março de 2011 10 comentários

Ricochete


Há dias que são assim: 
essa rejeição às soluções fáceis,
essa aflição por qualquer mancia.
Busco uma outra certeza, um modo
de dizer, um lapso.

(Espio sob as dobras do discurso).

Queria poder habitar a folha
                                  sem tantas rasuras
e não mais bater o coração
contra essa parede de palavras.

O mundo me importa tão só enquanto
                                  se engasta em escrita,
                                  pois o que não sei
                                  fazer desconto
                                  no que escrevo

e escrevo como se em algum lugar,
entre o inalcançável e o invisível,
eu soubesse haver uma resposta fácil,
aquela que rejeitei logo de início.


sábado, 26 de março de 2011 10 comentários

Feliz aniversário


Hoje não é um dia qualquer.
Afinal de contas, aniversário é
uma vez só ao ano. Quero
que esse dia seja mais
do que simples tapinhas nas costas,
apertos de mão, salgados, bolo, velas.

Quero, sobretudo, que você seja feliz.

Feliz nas pequenas coisas.
Elas é que dão à felicidade
oportunidade de se acercar de você,
silenciosamente, e destas
pequenas felicidades inesperadas
é de que é feita a vida.
Celebre-se a si mesmo.
Que possa sempre haver
alguma coisa que você queira
aprender, algo que queira fazer,
um local que queira ir,
alguém que queira encontrar.

Que você nunca perca o interesse pela vida.
Hoje você não ganha apenas idade nova.
Ganha um ponto importante
na batalha cotidiana pela felicidade.


(Feliz aniversário, meu irmão!)

quinta-feira, 24 de março de 2011 10 comentários

Difícil


Admiro sua audácia e persistência 
ao avançar destemida sobre minhas fronteiras,
mesmo sabendo-me armado e defeso.

Não sei o que fez minha cotação
subir na sua bolsa de valores cardíaca:
meus lucros nunca foram tão grandes assim.

Mas que fique claro, de uma vez por todas,
que o shiatsu no meu ego não é
pré-requisito para minha satisfação.


terça-feira, 22 de março de 2011 12 comentários

Das águas que sabem de março


Fui hipnotizado pelas ondas
de um olhar
implacavelmente azul.

E na força das águas,
                            aportei

onde os olhos sabem suas lágrimas:

             enseadas lentas,
                            praias desertas e cais
             abandonados
em noites de recuerdos ao luar.

Súbito,

ventou um silêncio de brisa
                            e sem demora

                   : águas passadas,
                            sem ressaca.


segunda-feira, 21 de março de 2011 10 comentários

Alçapão


Todo mundo 
tem um
                                   
                                                        fundo
                                                        falso.

segunda-feira, 14 de março de 2011 14 comentários

Imisção


O relacionamento não é
um abrigo ou mesmo um teto.

É antes disso, e mais áspero.

Artificial como fronteiras
cartográficas, o ermo
onde o outro não é remédio
para a solidão,

nem a privacidade é mais
garantia de sossego.

É onde tropeçamos no escuro,
noite após noite após noite,
esperando por uma clareza
de propósito.

Dolorosamente
ineficientes
ao lidar com nossos
mútuos assombros,
é difícil
acreditar que chegamos
até aqui:
imiscíveis.


quinta-feira, 10 de março de 2011 10 comentários

Bagatelas


O tempo tem câimbras.
A noite se acomoda
como um corpo num banho,
exalando nuvens e luzes de carro
- tossindo pássaros.

A escuridão, como um abraço,
senta-se comigo e preenche o quarto
com esse estranho cio de silêncios,
onde as coisas são perdidas:
tardes de feriado,
o som de um velho vinil,
fotos desbotadas,
amigos de infância.

A lembrança se esfiapa em todas as direções,
como se eu estivesse guardando o mar
em alguidares de areia.

Tudo é líquido
e sem margens.

E o que a memória traz é um destilado:
construto de espelho e sombra,
um antilume íntimo
eclipsando esse momento sem nome.

Sou causa deste efeito,
tropegamente humano.

À hora em que não há socorro,
quem não consegue arcar
com o quotidiano ríspido
há que se asilar
no passado impregnado na pele.



segunda-feira, 7 de março de 2011 14 comentários

Xis da questão


Não é porque não
estou sendo
lido que eu não
deva ser escrito.


sexta-feira, 4 de março de 2011 14 comentários

Exercício da vertigem


Há tristeza no signo do crepúsculo 
- a emprestar o tema.

O amor, sei que é
por um triz,
passadiço e árduo.

Mas com o que
e onde me escusar
do que não é amor,
simplesmente?


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011 10 comentários

Escopo


Pelo inferno e o céu de todo dia,
eu conservo somente um desejo:
transformar o tédio em poesia.

Que seja do que em mim silencia,
ou do que sinto, mas que não vejo –
o essencial é que haja a lexia.

(Se, tal como uma sala vazia,
a página frustrar-me o que almejo,
que, ao menos, não se faça a atonia).


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011 10 comentários

Ouropel


Palavras em surdina, 
sem nenhuma intenção
de abandonar os espaços
em branco.

Arrasto comigo um texto
em busca de letras exatas
para ser urdido,
que me respire e me arrebate
no seu fôlego,
que me recorte
nos parágrafos do dia.

Este repertório de conversação:
verbo,
     lema,
         linguagem,
     cairel da língua,
palimpsestos
— nada me serve.

A logorréia da intranquilidade
avança sobre meus sigilos,
finca bandeiras,
desbrava. Chego atrasado
ao que quero falar.

Como uma árvore bonsai,
minha palavra é podada.
E silencia o escrito,
até dizer.

(Quando criança, eu repetia uma palavra
intermináveis vezes para mim mesmo,
até que seu sentido se perdesse com calma,
deixando exclusivamente a crosta de um som cavo.
Tente: muito é ótimo).


domingo, 13 de fevereiro de 2011 10 comentários

Avatar


O papel faz a súmula
do meu segredo
de vida: não
passo de uma
cópia não
autenticada
de mim mesmo.


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011 10 comentários

Da solidão esferográfica


A noite caiu
violentamente
                                                sobre os ponteiros
                                                de minha sanidade.

A insônia
                                                                                                         me vigia,
                                                com aquela
perseverança
                                                que só
                                                ela. Eis que
                                                                                                             estou aqui
                                                provocando
                                                precisamente
a palavra
                                                que não
                                                vem.


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011 10 comentários

Esse nadifúndio


Segunda-feira, imensa desolação a céu aberto.
Pondero a singeleza dos meus cadarços,
como se uma filosofia, uma vida noturna,
pudesse ser elaborada dali,
deixo as horas deslizarem, distraídas.

O calor da tarde dá morada à lentidão da alma.
Temos tempo.

Não que haja muito a dizer
: a nostalgia carcome, voraz,
as notícias de sempre.
As vitórias são as mesmas,
raquíticas, pele e osso.
De ser feliz não se sabe,
nem há notícias de Deus.
Morrer é fácil, não há justiça.
Horas de trégua ainda há,
quando se afiam as facas.
Entretanto, nada significa,
irrisório e medíocre.
Sob a ferida exposta da mais-valia,
concluímos: viver, na verdade,
é um jogo de desarmar.


domingo, 6 de fevereiro de 2011 10 comentários

Sobre a leitura do poema na canção

)
Para Martin Gore
(

Toda canção se inclina
na direção do seu silêncio.
Todo poema se prolonga
para sua última palavra.

Silêncio onde
repercutem os sons
que o prepararam.

Última palavra
que reverbera todas
as que a antecederam.

sábado, 5 de fevereiro de 2011 10 comentários

Post-Scriptum Blues



Recluso entre palavras,
acho-me desimportante.

Atrás de alguma conversa
nesse desacerto, tenho
depositado negligentemente
as palavras nos ninhos
sinápticos de quem me lê.

                                    Mas que raça de fênix é essa,
                                    cujas asas invisíveis não se agitam
                                    no pós-chama da leitura?

Bem sei que o silêncio
também é um idioma,
contudo eu me calco
nesse acaso de estar
sempre na iminência,
naquela espécie de véspera
: onde está seu comentário,
ainda que trivial, conciso, imposto?

Pois saiba que vivo
de me riscar
nesse arabesco de procuras,
contundente,
de quem se observa
no espelho por detrás.
E somente esse rastro no texto,
essa pegada fresca,
essa digital acesa
dá conta da vastidão do deserto
que a nós todos atravessa
: a tristeza das coisas,
o patético sempre presente
e à espreita logo abaixo da superfície da vida.

O que pretendo é somente
saber o que é
e o que não é
enquanto tropeço pelos dias.
Fico assim
à mercê de sua misericórdia,
indulgência, anistia –
meu indulto irrefragável.

Por que não diz palavra?


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011 10 comentários

Sinopse dos dias


O truque, dizem,
é se deixar para trás,
disfarçar-se
no corpo inconsiderado
de um homem que sempre fui
destinado a ser
e acelerar minha pressa
em direção aos compromissos assumidos.
A testa expõe seus vincos,
como se a antever
o que virá:
a lemniscata do ponto de interrogação,
o adelgaçamento da paciência,
da fé,
da confiança.
Mas aqui onde
o dialeto não consiste
de palavras mas de horários,
não importa a presciência.
Há simplesmente algarismos.
Há simplesmente a agenda,
escondendo em seus cronogramas
o ano que se agrisalha
quotidianamente,
o para sempre que vamos
deixando escapar
a todo o momento.
E nós rogamos
para que os trincos
velem as amarguras,
que as portas fechadas
filtrem as decepções,
que no fim de cada dia
haja algo que tenha
feito sentido,
qualquer um.


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011 10 comentários

Claustro


Isto é tudo o que preciso:
meus livros, discos, revistas.
Meu pequeno paraíso.
O meu mundo, assim, conciso,
onde eu sou protagonista.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011 10 comentários

Tradução simultânea


Perguntaram-me o que significa logomaquia. Segundo os léxicos, “logomaquia é um jogo de palavras, a arte de batalhar com palavras. Na filosofia, é a técnica de vencer nas discussões”.

Artimanhas da palavra, subterfúgio dos signos. Todo o encanto e a quimera a que são possíveis. A representação conveniente tanto de meu prazer quanto de meu ofício.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011 4 comentários

À guisa de introdução


Levado a este istmo de quase saber o que estou fazendo, escrevo com um embaraço quase virginal. Nesse pedaço de todas as dúvidas, eu me ponho em xeque a cada caractere. Tenho um senso crítico ferocíssimo. 

Entretanto, como li em algum outro lugar, todos nós ansiamos por intimidade. E é isso que busco e ofereço, essa possibilidade de ser lido rente ao que pretendi, criar o pathos exato para que possamos, num átimo, encontrarmo-nos na mesma posição: unívocos no símbolo, seja palavra ou imagem.

Meu interesse jaz mais aquém, no debrum do que existe entre os signos. Padeço desta enfermidade que me impede de ser afásico, mesmo quando me quero em silêncio.

Sem pretensões além do próprio ardor de me expressar (esse comichão de todas as horas), este diário cibernético é apenas isso: “um delírio do simbólico num coito com os signos”.

 
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