sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011 10 comentários

Da solidão esferográfica


A noite caiu
violentamente
                                                sobre os ponteiros
                                                de minha sanidade.

A insônia
                                                                                                         me vigia,
                                                com aquela
perseverança
                                                que só
                                                ela. Eis que
                                                                                                             estou aqui
                                                provocando
                                                precisamente
a palavra
                                                que não
                                                vem.


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011 10 comentários

Esse nadifúndio


Segunda-feira, imensa desolação a céu aberto.
Pondero a singeleza dos meus cadarços,
como se uma filosofia, uma vida noturna,
pudesse ser elaborada dali,
deixo as horas deslizarem, distraídas.

O calor da tarde dá morada à lentidão da alma.
Temos tempo.

Não que haja muito a dizer
: a nostalgia carcome, voraz,
as notícias de sempre.
As vitórias são as mesmas,
raquíticas, pele e osso.
De ser feliz não se sabe,
nem há notícias de Deus.
Morrer é fácil, não há justiça.
Horas de trégua ainda há,
quando se afiam as facas.
Entretanto, nada significa,
irrisório e medíocre.
Sob a ferida exposta da mais-valia,
concluímos: viver, na verdade,
é um jogo de desarmar.


domingo, 6 de fevereiro de 2011 10 comentários

Sobre a leitura do poema na canção

)
Para Martin Gore
(

Toda canção se inclina
na direção do seu silêncio.
Todo poema se prolonga
para sua última palavra.

Silêncio onde
repercutem os sons
que o prepararam.

Última palavra
que reverbera todas
as que a antecederam.

sábado, 5 de fevereiro de 2011 10 comentários

Post-Scriptum Blues



Recluso entre palavras,
acho-me desimportante.

Atrás de alguma conversa
nesse desacerto, tenho
depositado negligentemente
as palavras nos ninhos
sinápticos de quem me lê.

                                    Mas que raça de fênix é essa,
                                    cujas asas invisíveis não se agitam
                                    no pós-chama da leitura?

Bem sei que o silêncio
também é um idioma,
contudo eu me calco
nesse acaso de estar
sempre na iminência,
naquela espécie de véspera
: onde está seu comentário,
ainda que trivial, conciso, imposto?

Pois saiba que vivo
de me riscar
nesse arabesco de procuras,
contundente,
de quem se observa
no espelho por detrás.
E somente esse rastro no texto,
essa pegada fresca,
essa digital acesa
dá conta da vastidão do deserto
que a nós todos atravessa
: a tristeza das coisas,
o patético sempre presente
e à espreita logo abaixo da superfície da vida.

O que pretendo é somente
saber o que é
e o que não é
enquanto tropeço pelos dias.
Fico assim
à mercê de sua misericórdia,
indulgência, anistia –
meu indulto irrefragável.

Por que não diz palavra?


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011 10 comentários

Claustro


Isto é tudo o que preciso:
meus livros, discos, revistas.
Meu pequeno paraíso.
O meu mundo, assim, conciso,
onde eu sou protagonista.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011 14 comentários

Exercício da vertigem


Há tristeza no signo do crepúsculo 
- a emprestar o tema.

O amor, sei que é
por um triz,
passadiço e árduo.

Mas com o que
e onde me escusar
do que não é amor,
simplesmente?


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Tradução simultânea


Perguntaram-me o que significa logomaquia. Segundo os léxicos, “logomaquia é um jogo de palavras, a arte de batalhar com palavras. Na filosofia, é a técnica de vencer nas discussões”.

Artimanhas da palavra, subterfúgio dos signos. Todo o encanto e a quimera a que são possíveis. A representação conveniente tanto de meu prazer quanto de meu ofício.

 
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