sábado, 5 de fevereiro de 2011

Post-Scriptum Blues



Recluso entre palavras,
acho-me desimportante.

Atrás de alguma conversa
nesse desacerto, tenho
depositado negligentemente
as palavras nos ninhos
sinápticos de quem me lê.

                                    Mas que raça de fênix é essa,
                                    cujas asas invisíveis não se agitam
                                    no pós-chama da leitura?

Bem sei que o silêncio
também é um idioma,
contudo eu me calco
nesse acaso de estar
sempre na iminência,
naquela espécie de véspera
: onde está seu comentário,
ainda que trivial, conciso, imposto?

Pois saiba que vivo
de me riscar
nesse arabesco de procuras,
contundente,
de quem se observa
no espelho por detrás.
E somente esse rastro no texto,
essa pegada fresca,
essa digital acesa
dá conta da vastidão do deserto
que a nós todos atravessa
: a tristeza das coisas,
o patético sempre presente
e à espreita logo abaixo da superfície da vida.

O que pretendo é somente
saber o que é
e o que não é
enquanto tropeço pelos dias.
Fico assim
à mercê de sua misericórdia,
indulgência, anistia –
meu indulto irrefragável.

Por que não diz palavra?


10 comentários:

Suzana Gouvêa Simões disse...

muitas vezes,
quando leio as suas
as minhas desaparecem

deixam-me em um estado de reflexão
onde o falar
não cabe palavra
todo o momento é ocupado por sentimento

Frederico Franco disse...

Para acalentar sua impaciência, sua ânsia por palavras, digo: "Supercalifragilisticexpialidocious"

Talita Prates disse...

"Bem sei que o silêncio
também é um idioma."

: adorei, inteiro!

Talita.

Fabrício César Franco disse...

Suzana,

Ainda assim, é ótimo saber que ainda lhe restaram algumas, para seu comentário.

Beijo!

Fabrício César Franco disse...

Mano bróder,

... Não consegui conter o riso. Obrigado pela palavra!

Fabrício César Franco disse...

Talita,

Muito grato pelo seu comentário! Ótimo saber que encontro ressonância em sua leitura.

Anônimo disse...

Caríssimo POETA!
São raros os que conseguem LIDAR COM PALAVRAS, como você o faz!
Você jamais pode se achar desimportante, porque as RESPOSTAS não chegam!
São muitos que, como eu, já têm conhecimento de seu TRABALHO e o admiram.
Grande abraço,
Andrea Marcondes

Fabrício César Franco disse...

Andrea,

Os comentários nos posts são a melhor paga para um blogueiro, minha cara. Sem eles, mal sabemos se somos ou não lidos... Por isso, a desimportância, vezenquando...

Abraço!

Regina Bittencourt disse...

A busca do saber "se é ou não é" é o mais instigante da vida! Cresci ouvindo que a física explica tudo! Para ela, precisa da matemática, e a fantástica matemática precisa da palavra. Da palavra e as coisas vejo a linguagem, o elo possível ao Homem conhecer a si. Como bem observava Foucault, a linguagem responde, amigo!
Viajante o seu texto! Amei.

Fabrício César Franco disse...

Regina,

Na busca dessa conectividade causada pela leitura é que permaneço escrevendo, querendo lançar cordas às praias de meus leitores, unindo-nos na palavra.

Obrigado pela visita!

 
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