terça-feira, 13 de novembro de 2012

Prestidigitação


As palavras não se comportam, 
desproporcionam a vontade de escrever,
atormentam a inspiração.
Nada mais natural que se desprendam de mim,
como casca de árvore, como suor,
como pele de áspide. No entanto,
coisa nenhuma se expressa, elas continuam aqui,
recolhidas nesse interstício,
presas no atrito da imprecisão.
E qual o motivo, meu Deus?
Afora as óbvias,
justificativas assim precisas não há.
A autocrítica intransigente,
certa desambição de se fazer lido,
a persistente sensação de que nem
se é tão imperioso colocar minha alma no papel.
Novo tentame. Fixo-me na música das esferas,
conto meu fôlego daqui ao Zen,
busco resignação nos confins da sofreguidão.
Como um regente vacilante, ergo minha batuta
contra a fúria dos constrangimentos da eloquência
: minha escrita torna-se o contraveneno
da mordida do embotamento,
truque de dedos,
bruxedo de vocábulos.



12 comentários:

Raquel Sales disse...

Fabrício,

Depois disso, o que posso escrever???? Elogios e só. Juntar palavras é tarefa árdua que revira a existência (e o dicionário) do avesso. Parabéns pela habilidade de revirar...

Bj

Fabrício César Franco disse...

Raquel,

Muito obrigado pelo elogio. Revirar-me do avesso tem sido o trabalho cotidiano, nessa labuta de escrever.

Beijo!

Anônimo disse...

Querido Fabrício

Se as palavras lhe dão trotes, imagino então quando elas lhe provocam irresistível admiração...
É, as palavras às vezes são madrastas, mas estão aí para lhe dar o melhor delas. Só é preciso ter uma certa paciência com o gaudério a que elas promovem.
Bjuss

Fabrício César Franco disse...

Suzana,

Obrigado pelo carinho de sua leitura. Não há como discordar de você: há imenso prazer quando conseguimos domar as palavras, mesmo que só no enquanto de um poema.

Beijo!

Rafaela Figueiredo disse...

O q mais me impressiona (além do muito bom uso q faz das palavras) é a capacidade de expor justamente aquilo q, tanta vezes, nos "bloqueia", transcrevendo tão bem sobre o próprio escrever no não escrever e q, no caso, acaba escrito. Entende? Rsrs Tá vendo como eu nem consigo qdo tento?

Um bjo, caríssimo poeta!

Fabrício César Franco disse...

Rafaela,

O abandono da "musa", a afasia, é uma constante em quem busca escrever. Invejo aqueles escritores copiosos, que produzem sagas e sagas, eu que mal consigo arrebanhar um quinhão de palavras.

Beijo, caríssima, e obrigado pela sua visita!

Anônimo disse...

Caro POETA,
No "truque dos dedos" você nos mostra sua ARTE com as palavras!
(TRABALHO MÁGICO de excelente resultado!)

...................................
Veja o que escreveu Drummond:
"Palavra, palavra,
(digo exasperado)
se me desafias,
aceito o combate."
( "O LUTADOR")
...................................
Aproveite seu carisma. Aceite o combate!
Grande abraço,com admiração,
Andrea Marcondes

Fabrício César Franco disse...

Andrea,

O combate está aceito há anos, fazendo bodas de prata esse ano (ou até mais, se contarmos os anos de tentativa às cegas e muitos erros). Você acompanhou o processo, sabe como foi...

Abraço, com carinho!

thays carolina disse...

Bom perscrutamento! É de grande valia, para aqueles que possuem o inefável no peito, conseguir abrir a porta de casa, sem sequer tropeçar nas palavras, ou morrer engasgado por estas. Tanta preciosidade abandonada por esses caminhos dispersos da vida... E tanto sufocamento de coração! É o calor de quem berra por dentro; berrar, propriamente, para aproximar-se do paraíso; ser narrador - e personagem - é quase tarefa de quem possui labirintite e precisa trabalhar com a altura; pão de cada dia de quem não possui compromissos com a garantia. Essas nossas vidas desconexas, que estão ligadas diretamente à procura de uma conexão, deixam-nos conectados à inconstância de ser e estar. E quando atravessam as janelas da alma? Só o espírito de força - a consciência de porte e o coração de estrutura - consegue transmitir a mensagem incólume: diz-se tudo com as palavras e, mais ainda, com o silêncio. Mas o aperto de um infinito todo dentro de nós, com toda a certeza, acaba por nos implodir. Entendo seus seres e estares vitimizados! Mais ainda, entendo-os, quando, em êxtase com a liberdade, em poder presenciar os desabafos tão palpáveis e as verdades tão extasiantes. É que números calculam sentimentos; as palavras, acabam por descrevê-los explicitamente ou implicitamente. Continuemos a caminhar!

Gostei da literalidade! É o que acontece comigo, também. Até no outro lado do mundo.

Beijão, Fabrício! Estou seguindo! :)

Fabrício César Franco disse...

Thays,

Primeiramente, obrigado pela visita. E, claro, pelo comentário. Concordo, em absoluto, contigo a respeito do contínuo caminhar - nem que seja, tão somente, poético.

Beijo, e volte sempre!

Lyu Somah disse...

A arte de revirar perfeitamente.
Parabéns Fabrício por esse dom que me cativas !

Abração Fabrício

Lyu somah
http://lyusomah.blogspot.com.br/

Fabrício César Franco disse...

Lyu,

Obrigado pela visita e comentário. Seja sempre bem-vindo!

 
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