sábado, 4 de fevereiro de 2017

Areias movediças



Eis-me em estado de burocracia.
Os olhos autopsiam
os programas marcados na agenda.
Movo meu cansaço pela cama,
abro trincheiras nos lençóis.
Busco o meu tempo perdido,
a minha arqueologia,
no relógio sobre o criado-mudo
– que rege, quieto, horas que não existem,
mas que confabulam e devagar
avançam no vazio.

O silêncio quer ser a absoluta engenharia.

Assim,
vou me subtraindo sem pressa,
até deixar-me
existindo somente por entre os cílios.

 

4 comentários:

Anônimo disse...

Caríssimo POETA,
A responsabilidade ( profissional, familiar, EXISTENCIAL) nos faz viver assim como você escreveu. É desse modo que vivem as pessoas responsáveis e organizadas, como você. Admiro seu talento para retratar na POESIA a VIDA REAL.
Abraço,
Andrea Marcondes

Fabrício César Franco disse...

Andrea, caríssima:

Obrigado, uma vez mais, pela admiração. É mútua, saiba. Este é um texto antigo; acredito que não tenha me desviado muito desta senda. A vida urge. E só nos resta existi-la.

Abraço, com carinho!

Rafaela Figueiredo disse...

É um tempo necessário, Franco!
E q eles [nos] seja mestre e sirva de um acalento.

Bjo, poeta

Fabrício César Franco disse...

Rafaela,

... Aprender com a restrição, quão dura é essa lição...

Beijo, poetisa!

 
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