quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Repensando o pesar


1.
Agradeçamos aos nossos enganos 
e os abençoemos por sua prosa terrivelmente vulnerável. 

2.
Nós deveríamos lhes oferecer nossa gratidão, 
admiração por nos dar nossas fissuras 
e nos cicatrizar com embaraço, 
no lampejo quente de uma confissão. 

Obrigado, transgressões, 
por nos fazer 
tão direitos 
em nossas imperfeições. 
Menos defeituosos, 
nós poderíamos ter nos desviado e, 
aptos demais, 
procurado outros caminhos. 

3.
Ainda que nosso engano perfeito 
tenha vindo diretamente para nós, 
para dentro de nossas vidas ordenadamente atravancadas, 
(que até poderiam ter estado 
fechadas, adormecidas, mas 
ao invés ficaram acordadas toda a noite, 
esquecendo da pílula, do livro bom, 
das oito horas necessárias), 
mantendo nosso coração atordoado 
e aturdindo – este engano é nosso!

4.
Quão infeliz a perfeição 
pareceria, ali na estante, 
sem sequer uma fenda, 
sem esta quebra crítica 
– esta queda – 
este súbito e emocionante desenho 
que acontece 
de ser 
nós.

4 comentários:

Anônimo disse...

Caríssimo POETA,
Na vida "ORDENADAMENTE ATRAVANCADA", sei que a perfeição é impossível...mas, asseguro:"tenho aprendido mais com a derrota do que com a vitória".
Reitero minha admiração pelos seus escritos.
Grande abraço,
Andrea Marcondes

Fabrício César Franco disse...

Caríssima Andrea,

Quero aprender, mas sem precisar de tantas derrotas. Seria de bom tom a vida me angariar algumas milhares de vitórias, dessas que a gente nota, publica e divulga. Das pequenas, ainda bem, eu já tenho conhecimento e usufruto.

Abraço, com 'sodade'!

Rafaela Figueiredo disse...

Ah, me identifico, principalmente, com o axioma 3.
E q assim seja, amém!

Bjs, Franco

Fabrício César Franco disse...

Rafaela, poetisa:

O que seria de nós sem tudo aquilo que consideramos nossa sombra, nosso lado imperfeito?

Beijos e muito obrigado pela leitura!

 
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