segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Esse nadifúndio


Segunda-feira, imensa desolação a céu aberto.
Pondero a singeleza dos meus cadarços,
como se uma filosofia, uma vida noturna,
pudesse ser elaborada dali,
deixo as horas deslizarem, distraídas.

O calor da tarde dá morada à lentidão da alma.
Temos tempo.

Não que haja muito a dizer
: a nostalgia carcome, voraz,
as notícias de sempre.
As vitórias são as mesmas,
raquíticas, pele e osso.
De ser feliz não se sabe,
nem há notícias de Deus.
Morrer é fácil, não há justiça.
Horas de trégua ainda há,
quando se afiam as facas.
Entretanto, nada significa,
irrisório e medíocre.
Sob a ferida exposta da mais-valia,
concluímos: viver, na verdade,
é um jogo de desarmar.


10 comentários:

Anne Barreto disse...

Preciso reler para tecer algo sobre.
Mas desde já digo, ou melhor, nem preciso dizer...
Vc sempre com boas palavras, e desta vez, chegadas num bom momento.
Ah, esse tão de "efêmero"...

Anônimo disse...

Este blog está um delícia... Aos poucos vou saboreando cada pedacinho dele...

Um cheiro!

Ivanessa.

Fabrício César Franco disse...

Anne,

O efêmero, a impermanência, é algo que muito me diz respeito. Tanto é que uma das minhas tags é impermanência...

Fabrício César Franco disse...

Ivanessa,

Fico muito grato com sua leitura de meu texto. Volte mais vezes, o prazer é meu. Beijo!

Anônimo disse...

Tao próximo do que se sente em dias assim... Onde tudo parece tao cheio de mesmice. Em um tempo em que interiorizo a mais profunda reflexão, o texto fala a alma. Muito bonito, Fabrício. Muito especial.
(Diana Coy)

Fabrício César Franco disse...

Di, querida,

Há dias que parece que a velocidade, qualquer, deixa de existir. É tudo uma imobilidade irritante, uma dificuldade de se sentir qualquer coisa indo de um lugar a outro, ideias ou conversas ou fatos. Assim, parece que só nos resta mesmo a introspecção, o vistoriar interno para perceber alguma goteira sobre a alma, as rachaduras na parede do pensamento; e tratar de arrumá-los, nós mesmos.

Beijo e obrigado pelo comentário! Gostei muito!

Anônimo disse...

E neste "nadifúndio" estamos nós, criativos seres indolentes, querendo saber se tartaruga morde, para calcular quanto tempo temos antes que ela nos alcance os pés naturalmente descalços, naturalmente quietos...

Fabrício César Franco disse...

Su,

E tudo se perfazendo na modorra...

Queria apenas que a justiça fosse mais ágil, nem que fosse um tantinho só. Precisamos.

Abraço!

Raquel Sales disse...

Fabrício,

Segunda-feira é sempre dia difícil. Acordar cedo e (re)planejar a semana, (re)organizar prioridades, (re)começar o regime, (re)matricular na academia, (re)encontrar os amigos... A semana passa a jato. As metas ficam “a concluir”. Num piscar de olhos, já é segunda-feira de novo. Rotina. Argh! E de novo, acordar cedo, (re)planejar, (re)organizar, (re)começar, (re)matricular, (re)encontrar...

Valeu, poeta, pela qualidade do texto (como de costume) e pelo choque de realidade...

Voltemos à labuta... Ainda é segunda-feira e há muitas metas a concluir.

Bj

Fabrício César Franco disse...

Raquel,

Segunda-feira é mesmo isso: o choque da realidade, ou, melhor dizendo, a realidade enfadonha e morosa, o mesmo de sempre.

Algum dia, será?, haverá uma segunda-feira diferente...

Abraço!

 
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