O tempo tem câimbras.
A noite se acomoda
como um corpo num banho,
exalando nuvens e luzes de carro
- tossindo pássaros.
A escuridão, como um abraço,
senta-se comigo e preenche o quarto
com esse estranho cio de silêncios,
onde as coisas são perdidas:
tardes de feriado,
o som de um velho vinil,
fotos desbotadas,
amigos de infância.
A lembrança se esfiapa em todas as direções,
como se eu estivesse guardando o mar
em alguidares de areia.
Tudo é líquido
e sem margens.
E o que a memória traz é um destilado:
construto de espelho e sombra,
um antilume íntimo
eclipsando esse momento sem nome.
Sou causa deste efeito,
tropegamente humano.
À hora em que não há socorro,
quem não consegue arcar
com o quotidiano ríspido
há que se asilar
no passado impregnado na pele.
10 comentários:
Das melhores coisas que já li aqui.
E tem, heim!
Eu fico honrado com seu elogio, Alicia. Obrigado, de verdade. :)
Esse poema retrata fabulosamente muito do que senti e vivenciei nesse feriado.
Um cheiro!
Ivanessa!
Que bom ter você por aqui. Saudades! Gostaria de uma hora dessas, sem pressa, de ter você por perto, conversar, saber de suas fotos, o que você anda vendo, percebendo, contando... Mas só de ter seu olhar sobre meu texto já é um grande presente. Obrigado!
Beijo!
é verdade... às vezes o passado é o melhor refúgio.. ai q nostalgia!
Lei,
... Vezenquando, é o único refúgio.
Belíssimo!
Gostei das comparações.Consigo imaginar o esforço surreal de tentar segurar o mar, e a noite que chega tranquila e se acomoda como o corpo no banho!
Adorei!
Indie
Indie querida,
Que bom ter seus olhos pousados sobre meu texto. E melhor ainda, ter seu comentário, saber o que você achou do que leu.
Um beijo, com carinho!
Caríssimo POETA,
Volto a afirmar: a construção de seu texto (como sempre) me encanta.
"BAGATELAS" me faz lembrar (pelo conteúdo e estilo) uma análise que traduz, exatamente, o que percebi ao lê-lo. Mais ou menos assim: POETA APREENDE, NA ESCRITA, A ESSÊNCIA DE UMA REALIDADE ESCONDIDA NO INCONSCIENTE E RECRIADA PELO ( NOSSO) PENSAMENTO.
Grande abraço,
Andrea Marcondes
Andrea, mais que querida:
Eu tento recriar o que vejo, percebo, ou mesmo que - simplesmente? - sinto. Vezes sem conta, palavras me vêm com um ímpeto senhorial, demandantes de serem escritas. Então, apenas escrevo, obedientemente...
Um abraço, com carinho!
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