segunda-feira, 14 de março de 2011

Imisção


O relacionamento não é
um abrigo ou mesmo um teto.

É antes disso, e mais áspero.

Artificial como fronteiras
cartográficas, o ermo
onde o outro não é remédio
para a solidão,

nem a privacidade é mais
garantia de sossego.

É onde tropeçamos no escuro,
noite após noite após noite,
esperando por uma clareza
de propósito.

Dolorosamente
ineficientes
ao lidar com nossos
mútuos assombros,
é difícil
acreditar que chegamos
até aqui:
imiscíveis.


14 comentários:

Alicia disse...

Em "imiscíveis", li "insaciáveis".
Diz...?

Fabrício César Franco disse...

Digo: antípodas!

Anônimo disse...

Acho bom que as coisas não se misturem, digo, às vezes...

Fabrício César Franco disse...

Elem,

... Mas o que fazer quando a mistura é o resultado esperado?

Anônimo disse...

Acho que é bom celebrar e agradecer, pois é um milagre!

Unknown disse...

Às vezes nem tão imiscíveis assim... rs. Gostei muito de "onde o outro não é remédio para a solidão, nem a privacidade é mais garantia de sossego". Mais que verdadeiro!
beijos grandes

Fabrício César Franco disse...

Elem,

Daí que o escrito é o contrário disso: um desalento em forma de desabafo poético.

Fabrício César Franco disse...

Mila, querida,

... Verdadeiro porque vivido (e sobrevivido). Obrigado pela visita, seja sempre, sempre, muito bem-vinda.

Beijos!

Anônimo disse...

Entendo o que diz, porque também misturo conceitos contraditórios.

Fabrício César Franco disse...

Elem,

Mais do que conceitos, vezenquando não conseguimos misturar sequer convivências... Ficamos imiscíveis.

Anônimo disse...

Misturado, sendo cada um cada um, óleo e água.

Que incrível postagem, Fabrício!
Da imagem à reflexão
a natureza humana imiscível

talvez o fardo esteja na idealização da mistura

Bjs

Anônimo disse...

Fabrício,
entendo o que diz.
É gosto de cozinhar, e olhei para imiscível da minha janela, avaliando que se alguns ingredientes conseguirem se manter íntegros, mesmo se levados ao fogo alto, deixarão a aparência e o sabor do prato muito melhor.

Fabrício César Franco disse...

Van,

Você chegou ao fulcro da coisa: idealizamos que, no encontro, dois passem a ser um. Nunca. Somos dois, seremos dois. O que pode haver é uma sincronia de passos, um moto contínuo de gestos que levam, quem vê, a crer que é uma simbiose tão exata que 'parece' ser um.

Obrigado pela visita! Beijo!

Fabrício César Franco disse...

Elem,

... Então, que sua culinária benigna traga mais e mais misturas...

Beijo!

 
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