quinta-feira, 19 de julho de 2012

Nirvana de celofane


)
Nemo saltat sobrius.
Homens sóbrios não dançam.
(

O que eu queria, é claro,
era o ímpeto e o alcance do épico,
música pomposa, o sentido da vida
mesmo que perfumada
pela vastidão da morte.

Queria tudo isso
em três minutos e meio,
na abrangência de um poente.

Deixei-me ficar,
num favor de aragem,
no vermelho da tarde que se recolhia
no céu e me embriaguei
aquém das letras,
além deste idioma
feito de todos os poemas
que já li sobre o crepúsculo.

O que foi escrito
é insuficiente, precário e falto:
a feição do entardecer era
de páginas vazias em antecipação,
o branco incólume.

Sei que a linguagem é uma ameaça
que se abriga no que foi
empenhado nos textos
e que uma névoa de palavras, provocadas
pelos inconstantes ventos do sentido,
nunca fará jus ao que vi.

Mas que era bonito, isso era.

16 comentários:

Anônimo disse...

Eu só aplaudo!

Fabrício César Franco disse...

Wanderly,

Fico muito grato com sua leitura generosa! Seja - sempre - bem-vinda!

Anônimo disse...

Senti-me, ao ler sua poesia, como se estivesse vendo o poente, a explosão de cores em tons de vermelho e amarelo e o ar incólume, quase parado, como se com pena de mover-se e com isso terminar o espetáculo do entardecer.
Obrigada por este presente poético.

Fabrício César Franco disse...

Suzana,

Quem agradece sou eu, porém, a sua gentileza em vir me ler.

Meu abraço!

Pollyana disse...

Sua poesia, meu bem, é como uma fotografia do espetáculo do pôr do sol em palavras. Lindo!

Fabrício César Franco disse...

Polly,

... Você não pode mensurar a grata emoção de ter um comentário seu sobre o que eu escrevo...

Beijo, com carinho imenso!

Will Carvalho disse...

Esse foi dos bons. Vc é muito bom com esse tipo de descrição. Nos transporta para o momento narrado.

Parabéns!

Rafaela Figueiredo disse...

e, apesar de toda 'incompletude' da palavra, tuas metáforas desenham o cenário.
e a cena se constrói em cada verso...
e a alma se delicia inteira através dos sentidos...

um beijo, querido Franco!

Fabrício César Franco disse...

Rafaela,

A palavra nos constrói pontes, abre portas, desvenda caminhos, cose linhas do destino. A palavra nos permite isso tudo e mais; por ela, você veio até aqui.

Um beijo, caríssima!

Fabrício César Franco disse...

Will,

... Acho que é porque o crepúsculo, por aqui, é tão grandioso e imponente, que não dá para descrever errado.

Obrigado pela visita!

Anônimo disse...

Você me fez voltar no tempo... num momento inesquecível, em que experimentei, ao lado de pessoas muito queridas, o espetáculo do pôr do sol na Barra, em Salvador...
Analisando sua ARTE POÉTICA, registro aqui o que disse o poeta mexicano Octávio Paz: "A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono (...) exercício espiritual; é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo e cria outro(...) Sublimação, condensação do inconsciente".
Grande abraço,
Andrea Marcondes

Fabrício César Franco disse...

Andrea,

Partilho dessa emoção de ver o crepúsculo em local tão privilegiado. Estive em Salvador recentemente, mas infelizmente não tive condições (tempo!) de rever o por do sol por lá. Mas como disse Octávio Paz, a poesia é forma de sublimar essas restrições (de tempo, de espaço)...

Abraço, com carinho imenso!

Nanda disse...

Com licença, mas hoje vou apenas desejar um Feliz Dia do Amigo a meu irmão de coração! =D

Fabrício César Franco disse...

Para você também, Nanda!

Abraço!!!

Raquel Sales disse...

Fabrício,

poema envolvente e belo, como as tardes belorizontinas, nestes dias de inverno (que vc tanto conhece). Obrigada pelo presente...
Bj

Fabrício César Franco disse...

Raquel,

O poente mineiro sempre será o meu favorito, com o sol morredouro por detrás do mar de montanhas...

Beijo!

 
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