A espera é uma forma de animação suspensa. O tempo se solidifica: um peso morto. Somos reprimidos, rendidos imóveis e desamparados. Somos castigados, não por uma ofensa nossa, mas por aqueles que nos impõem a espera. E a dor está em saber que nosso recurso mais precioso – uma fração de nossa vida – está sendo roubado, irrevogavelmente perdido.
Não sei pormenorizar qual revés me vergastou com tal veemência que me fraturei em pedaços, qual cacos de espelho ao chão.
Hoje, cada vez que junto os estilhaços, desponta um ser diferente, mil em um e um entre milhares, um mosaico onde se enxerga lascas de mim em cada parte e nenhum reflexo onde me caiba inteiro.
É mais prudente e por cautela mais sábio não falar de mim : ou me louvo o que é vaidade : ou me desonro o que é estupidez melhor que os outros descubram meus defeitos que a inveja possa corroer sem que eu sofra muito dano