segunda-feira, 17 de junho de 2013

Caleidoscópio


Não sei pormenorizar
qual revés me vergastou
com tal veemência
que me fraturei em pedaços,
qual cacos de espelho ao chão.

Hoje,
cada vez que junto os estilhaços,
desponta um ser diferente,
mil em um
e um entre milhares,
um mosaico onde se enxerga
lascas de mim em cada parte
e nenhum reflexo
onde me caiba
inteiro.


16 comentários:

Anônimo disse...

Caríssimo POETA,
Você me faz pensar ALÉM...
...................................
Somos "caleidoscópios"...A vida é uma sucessão vertiginosa, "cambiante",de ações, sensações...Muita vez, não nos reconhecemos, conforme as circunstâncias e o modo como as experimentamos.
Vivo exercitando o autoconhecimento:(Andrea, Andrea, "gnothi seauton"/ CONHECE-TE A TI MESMO!- como "ensinava" SÓCRATES); para, então, conhecer ALÉM...
Grande abraço,
Andrea Marcondes

Fabrício César Franco disse...

Andrea,

Só mesmo você para trazer grego clássico ao Logomaquia. Fico muito lisonjeado!

Abraço, com imenso carinho!

Anônimo disse...

E mesmo nos cacos embaralhados da vida, sempre se tem uma imagem concreta, palpável... Imagem de vida.

Fabrício César Franco disse...

Su,

... Mesmo que não a vejamos, nós mesmos?

Abraço!

Luciana disse...

Fab, H.C.Andersen escreveu um conto de fadas que se chama A Rainha da Neve (Sneedronningen) no qual um espelho criado pelo Diabo se quebra em bilhões de cacos que ficam vagando pelo mundo até que um humano o encontre e tenha seu coração congelado. Não sei porque mas estou lendo este conto agora, você e Bebeto escreveram poemas sobre espelhos quebrados... Deve ter algo aí não?

Fabrício César Franco disse...

Liu,

Se prevalecer a lógica da sincronicidade, eu diria que é porque estamos - de algum modo - querendo nos reencontrar no reflexo que deixamos/encontramos nos espelhos. Uma retomada da identidade, talvez; ver quem somos, esse eu que desconhecemos.

Beijo!

Rafaela Gomes Figueiredo disse...

Acabei de ler um texto, assim lindo como o teu!
Deixo o link e faço de meu comentário lá o mesmo para cá.

memorialdosviralatas2.wordpress.com/2013/06/23/poema-diante-do-espelho/

Que nossos espelhos reproduzam muitos versos. E reversos.

Beijo, poeta

Fabrício César Franco disse...

Rafaela,

Fico honrado pelo elo que fez com outro texto, de tamanha qualidade. Muito obrigado pelo seu olhar atencioso e gentil.

Beijo!

Will Carvalho disse...

Primeiro eu queria parabenizá-lo pela sensibilidade em perceber caminhos entre palavras e pensamentos que eu nunca encontraria.
Já disse, seus versos me fazem ruminá-los por um período muito maior que o da leitura.
Quanto ao que suas palavras me disseram, acho que cada açoite que a vida nos dá, é uma marca que nunca se apaga por completo. Mas com força, conseguimos nos redesenhar. E aí está o viver: conseguir reconstruir o mosaico, cada vez que ele é desfeito em novos pedaços, da melhor forma possível, quiçá, de uma forma melhor que a anterior.

Fabrício César Franco disse...

Will,

Fico, uma vez mais, honrado com o que você me diz. Quando escrevo, não o faço para mim mas para ser lido e, sim, para ser "ruminado". Gosto de pensar que minhas palavras possam ter essa densidade, de penetrar em meus leitores, ficar com eles durante algum tempo, gerar alguma ponderação; fazer sentido.

Você tem razão, também, ao sugerir que o viver é construção e reconstrução cotidiana de nós e do que somos, nessa esperança da "melhor forma possível".

Abraço!

Nanda disse...

Todos somos um pouco assim; mas é melhor tentar juntar os 'cacos' numa forma colorida e não em algo frio e sem cor! Desculpe a demora =)

Fabrício César Franco disse...

Nanda,

As cores, portanto, nos fariam o sentido que falta? Ou seria algo simplesmente estético?

Obrigado pela visita!

Nanda disse...

Não, não seria algo apenas estético; mas uma forma de enxergar a vida; mesmo nos momentos mais complicados.

Fabrício César Franco disse...

Nanda,

O otimismo colorido, entendi agora. Bem, é uma opção: tão difícil quanto não tê-lo.

Abraço!

Raquel Sales disse...

Fabrício,

Eis dura realidade: por vezes, não me reconheço nos estilhaços ou, pior, os cacos revelam o pior de mim... Aff... e como laceram!!!

bj

Fabrício César Franco disse...

Raquel,

E por estar na laceração é que a consciência de ser dói mais.

Beijo!

 
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