quarta-feira, 10 de julho de 2013
Elucubração,
Equilíbrio,
Identidade,
Impermanência,
Itinerário
Ulisses
Estou sempre em regresso,
na recíproca da gravidade
no chão que se ergue
para o pouso do pé.
Cada movimento
é uma odisseia de volta,
dentro da qual sou
conduzido por vetores rivais,
arrasto e repulsa,
em errância por veredas
contraditórias dentro de mim.
Há esse desassossego sem âncora
: se me estaciono,
deixo um poder de passos no imóvel,
pois em hipótese alguma
devo abandonar a andança
por falta de caminho.
Se você me perceber
na quietude de um instante,
saiba que o que vê é uma fotografia,
eu nunca sou sereno assim,
meu deslocamento é constante
e essa é a verdade,
a verdade dos perímetros cambiantes.
Ou talvez não
a verdade inteira, apenas
a distância que se ajusta a mim
: na ambulação de todas as lonjuras
está a minha jornada de retorno para casa.
Escrito por
Fabrício César Franco
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14 comentários:
Muitos de nós temos esse querer, esse desejo de regresso.
Abraço
Fernanda,
Bom saber que essa caminhada não faço sozinho. Meu poema serve, portanto, como uma convocação dos caminhantes.
Abraço!
Essas andanças sempre me lembrar o trecho da canção (do mestre Paulinho da Viola) q diz: voltar quase sempre é partir para um outro lugar...
Gosto se pensar q todo retorno é, na vdd, um novo começo.
Um bjo, poeta
Rafaela,
Legal perceber que o samba tem dessas coisas místico-filosóficas, pois a frase de Paulinho da Viola me lembrou, veja só!, a história do Ouroboros, a cobra que come seu próprio rabo, representando os ciclos incessantes da vida. E mais legal ainda é perceber o fluxo da leitura, que nos leva a um canto a outro, num bater de pálpebras.
Beijo, poetisa.
Fab, gostei por demais dos dois últimos versos (?). São fantásticos porque a gente não se dá conta dessa per-ambulação, não é? E como Ulisses ao chegarmos em casa outra 'viagem' se impões: a de consertar o que foi danificado, repor o que foi removido, porque a casa que deixamos nunca é a mesma que reencontramos. Sei que você não é de publicar comentários meus, e não faz mal, mas queria pelo menos sua opinião nesse sentido, desse ciclo de abandono e retomada. Um beijo saudoso.
Liu,
Primeiro e mais importante: só não publico mais comentários seus porque não os recebo. Vivo no aguardo, contudo. Saber-me lido por você é um grande presente. Saiba.
Segundo: sim, concordo demais contigo quando diz das nossas idas e vindas, abandonos e retomadas, como você os chama. Somos seres de partida e chegada, sempre no trajeto. E acho que a nossa aprendizagem de vida se torna mais plena quando nos apercebemos que é nesse ínterim que nos fazemos inteiros.
Beijo, com carinho! Volte sempre que desejar!
Caríssimo POETA,
"Viver é muito perigoso!"(G. Rosa). Estamos sempre no "desassossego sem âncora" "pelas veredas contraditórias" dentro de nós...Somos HUMANOS! Ainda bem que aqueles que realmente nos conhecem, REconhecem nossos valores. E, então, podemos ter certeza de que é preciso fazer " a jornada de retorno para casa".
...................................O que aconteceu é PAGINA VIRADA.
Grande abraço,
Andrea Marcondes
Caríssima Andrea,
Que a leitura dos livros da vida continue, com a gente lendo cada vez mais atentos para que entendamos a mensagem (ou mensagens).
O bom é ter a exata noção de que me foi dada a habilidade por quem melhor ensina.
Abraço, saudoso e com carinho!
Fabrício,
Contradição faz parte da rotina, mas não quero que dela resulte paralisia...
Ao contrário: quero que dela brotem grandes revoluções filosóficas, científicas e pessoais...
“Nem quero ser estanque
Como quem constrói estradas
E não anda
Quero no escuro
Como um cego tatear
Estrelas distraídas” (Zeca Baleiro)
E achar a iluminação pras minhas perambulações e esquisitices (por mais custoso que possa ser).
Até a próxima...
Bj
Raquel,
Gosto tanto de seus comentários, pois sempre vêm acompanhados de citações de gente tão mais importante do que eu, trazendo um brilho (de completude) para os meus escritos. Muito obrigado!
Até a próxima, sim!
Beijo!
Poeta,
Não há de que... Texto e autor merecem intertexto de peso...
Bj
Raquel,
Mais do que nunca, eu agradeço a gentileza e a leitura generosa.
Beijo!
E nós aqui, Penélopes tricoteiras, à espera de suas letras... Maravilhosas.
Su,
... Aguarde, Ítaca é logo ali e venho escrever daqui a pouco.
Abraço!
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