domingo, 8 de maio de 2016

Nó górdio


1.
Qual a real medida desta manhã
que nunca me será dada de volta?
O que se faz aqui,
nesse débil agora,
que vai me fazer tirar leite das pedras?
Como ordenhar o vazio?

2.
Tempo é menos
uma medida de passagem
do que uma ressurreição falha.
Calendários e cronômetros não passam
de um tentame pífio
de se algemar o que se nos evade
e que, inversamente, nos prende
ao calabouço dos ponteiros,
à senzala das agendas,
à penitenciária das folhinhas.
Um nó só,
mas como é difícil desatar
: se livres, estamos extintos,
externos ao evento.
Resta-nos bem pouco a fazer.
Arte pela arte.
Vida pela vida.
E sempre, a morte.


12 comentários:

Renata de Aragão Lopes disse...

Eis o que somos, Fabrício:
prisioneiros não do Tempo
(cuja origem permanece ignorada),
mas do cômputo do tempo
que nós mesmos inventamos.

Houvesse para nós somente o Agora
(como, de fato, é o que há),
seríamos livres para o Ser.

Grande abraço!

Fabrício César Franco disse...

Poetisa:

Que comentário lindo. Li e reli várias vezes. Muito obrigado!!!!

Um abraço, com carinho e meu agradecimento por "vir me visitar".

NELSON RAMOS JUNIOR disse...

Olá Fabrício!
Gostei muito das poesias e do desenho do blog também.
Já estou seguindo ele.
Abração!

Fabrício César Franco disse...

Oi, Nelson!

Obrigado pela visita! Seja sempre bem-vindo!

Aguarde, que retribuirei a gentileza!!!

Abraço!!!

Rafaela Figueiredo disse...

É, Franco,
Supostamente deve haver alguma lógica em se crer q o ponto de partida - o hoje - provém do ponto de chegada - o amanhã.
Somos criaturas estranhas...
Lindos versos!
Obrigada pelo pensamento

Bjo, poeta

Raquel Sales disse...

Poeta,

Vivo em conflito com o tempo... Êta senhor difícil de lidar.
Passamos alguns dias em trégua involuntária (vc bem sabe), mas confesso que odiei... kkkk Ter tempo demais é elouquecedor...
Conclui que há que se manter com ele um estado sadio de tensão: ocupação suficiente para que ele não nos cause tédio e ócio suficiente para que ele não nos escravize.

Bjs até a próxima (se der tempo kkkk)

Fabrício César Franco disse...

Rafaela,

... O tempo nos limita, cerceia, instiga. O tempo nos define?

Um beijo!

Fabrício César Franco disse...

Raquel,

Que você tenha seu tempo, sem que seja tédio ou sufoco. Que tenhamos o tempo que precisamos para nos realizarmos como pessoas, atemporais. Conflito de termos e ideias? Mas não somos assim, contraditórios?

Que haja tempo para você voltar! Um abraço!

Anônimo disse...

Caríssimo POETA,
Ah! se não existissem as agendas, o que seria de nós, "escravos' do tempo?
Vivo correndo, tentando obedecer ao programado!
Quem me dera poder, "cortar", de verdade, o NÓ GÓRDIO do tempo inexorável. E, então, me tornar calma, livre, sem expectativas ruins. Tenho exercitado esta "convicção":viver somente um dia de cada vez,e assim, me manter saudável e feliz. Estou conseguindo!
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"Dum vita est, spes est". (Enquanto há vida, há esperança),não é mesmo?
Grande abraço,
Andrea Marcondes

Fabrício César Franco disse...

Andrea,

A citação, em latim, resume tudo: enquanto há vida, há saídas.

Abraço, com "sodade".

Valença disse...

"calabouço dos ponteiros...senzala das agendas...penitenciária das folhinhas..."
Só o poeta poderia descrever a soberania do tempo com tamanha precisão. É, o tempo é um soberano que, por vezes, pode ser um ditador rigoroso. Obrigado pela bela reflexão! Abraço!

Fabrício César Franco disse...

Eliana,

Olá, desculpe-me a demora em responder. Vida corrida, pouco para a fim de nos dar um tempo de respirar e curtir o que importa. Vivemos atados a contas, prazos, urgências alheias.

Obrigado por sua visita e generoso comentário. Grande abraço!!

 
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