quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Calado (quando doem as palavras)


Minha voz dorme “em timidez,
envolta na faringite que veio
de visita no início da semana”.
O silêncio adentra minha vida
com truculência, se faz compulsão,
nada há que eu possa fazer.
Refém da afonia,
meu vocabulário restrito,
engulo o não-dito
como quem rouba uma fruta e,
como criança dando às coisas outro nome,
refaço o mundo em letras mudas.

Natural sentir-me triste,
dia nublado.

Não se guardam palavras.
Quando poupadas, decompõem-se
na própria avareza. E doem
de o cabelo cair,
de o olho arder,
de querer vomitar.

Dói de respirar,
suspiro de nimbo
para fazer chover.
Inevitável
: alma alagada.

4 comentários:

Rafaela Figueiredo disse...

Nada como o silêncio para nos acalentar a alma.
Lindos versos, Franco!

Bjo

Fabrício César Franco disse...

Oi, poetisa!

Como vai? Sim, o silêncio pode ser muito útil. Até para que a gente possa nos separar da cacofonia que nos rodeia. Mas, para mim, silêncio também é preparo para a palavra que advirá. E essa, tem que valer por todo o silêncio que a antecipou.

Beijo!

Anônimo disse...

Carissimo POETA,
"O silêncio fala mais que as palavras" (sic!)
Mas, os poetas devem "explodir" em palavras (não somente escritas). São luzes que refletem o que pensamos. Não silencie (mesmo "afônico"). Fale! Escreva!
Admiro o que você expressa.
Grande abraço,
Andrea Marcondes

Fabrício César Franco disse...

Andrea, caríssima,

Não há como não me expressar. Os poemas continuarão, apesar de sentir que estou menos lido (parafraseando Caetano Veloso, "quem lê tanta" poesia?). E lhe adianto: haverá muita conversa, em breve, "in loco".

Abraço!!!

 
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