segunda-feira, 12 de maio de 2025 10 comentários

Ouropel


Palavras em surdina, 
sem nenhuma intenção
de abandonar os espaços
em branco.

Arrasto comigo um texto
em busca de letras exatas
para ser urdido,
que me respire e me arrebate
no seu fôlego,
que me recorte
nos parágrafos do dia.

Este repertório de conversação:
verbo,
     lema,
         linguagem,
     cairel da língua,
palimpsestos
— nada me serve.

A logorréia da intranquilidade
avança sobre meus sigilos,
finca bandeiras,
desbrava. Chego atrasado
ao que quero falar.

Como uma árvore bonsai,
minha palavra é podada.
E silencia o escrito,
até dizer.

(Quando criança, eu repetia uma palavra
intermináveis vezes para mim mesmo,
até que seu sentido se perdesse com calma,
deixando exclusivamente a crosta de um som cavo.
Tente: muito é ótimo).


 
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