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Para a minha amantíssima Ivany de Araújo Bonfim,
Dona Ervanildes,
vulgo “A Damascena”,
Tia maior
(
Dona Ervanildes,
vulgo “A Damascena”,
Tia maior
(
Dizer que ela é quituteira
é menosprezar o todo
de sua ciência. É claro
que ela negará essa informação,
como quem desdenha da própria receita,
contando que errou a mão.
Mas basta provar de seu gnocchi bolognese,
sua broa de fubá com erva-doce,
sua torta de amendoim
eternamente presente nos aniversários de meu irmão,
meu bacalhau com batatas
que fora marinado no leite
para perder o sal desde a véspera –
acepipes mil que se multiplicam
em cores e formas
na cozinha sempre atarefadamente alegre –
para se depreender a seriedade de haver paladar.
Ela vai dizer que são orexias de sobrinho,
a fome da saudade exagerando o sabor.
Não.
Pois mais do que a comida objetiva,
o doce e o salgado que desliza
em delícia pela língua,
é a receita da iguaria sempre
diferente que ela faz surgir
de seu desmesurado carinho
que me faz faminto por seus petiscos.