A poesia tornou-se performance, um duelo sem muitos direitos: a última do Lácio não é mais flor. Sobre o pavimento da folha (este pedaço de todas as interrogações), o único expediente é recuperar a palavra dispersa na mídia hansênica.
Acima do discurso tísico deste milênio que estreia, fazer poesia é inventar a carne.
Antes que se faça cinza a quarta-feira; que o batuque se recolha ao silêncio, transitório e quaresmal; que o colorido das fantasias se tolde no fosco ecumênico de todo dia, quiçá essa inquietação acabe e me dê a sensação de haurir o que é preciso: a semana, o mês, o ano prossegue estritamente, e o cansaço já me veste em seus trajes frouxos. Forasteiro desde sempre a todo esse folguedo, vezes sem conta eu me (im)pus a máscara foliona: mas o molejo é faltante, a malemolência falha, e logo se percebe que tenho mais raízes que pés. A gandaia se me faz pelos olhos de espectador, o espocar imponderado dos tambores surgindo como um susto à solta no peito, meu admirar-me acriançado diante da veemência corpórea dos passistas que se doam à polirritmia. E Momo, esse se ri de minhas arlequinadas.
As pedras escorregadiças, lustradas por anos de conflito. Aguerridas, iludem o tempo enfrentando-o de frente, minério contra o vento, contra a chuva, expondo todos os achaques e tormentas que esfolam cada aresta com um toque não muito distinto do de um Michelangelo.
Ainda assim, o ar é teimoso em sua insistência: quer assinalar as pedras com a rubrica do envelhecimento, como um encarcerado que decompõe a idade que lhe resta em linhas e traços. Quando o sol começa sua descida lenta, ornando o ar de ouro e cinabre, as pedras recortam a paisagem, severas e estoicas, sem saber que somos nós os interinos no crepúsculo.