De todos os assentos que você poderia ter escolhido neste amplo, desmedido ambiente, todo vazio, todo disponível, você escolheu logo aquele próximo a mim.
Eu estava sôfrego por solidão, por um espaço quieto e escuro nos minutos desagendados à força, para abrandar os círios de minha alma nas janelas dos olhos lentos.
Queria me despir deste indumento de fruta couraçada e não cogitar das desavenças, desperdícios que se fomentam no mundo.
Será que você percebeu?
Eu me sentei aqui, entorpecido, cataléptico, pesado na cadeira, pés descalços sobre o assoalho, a friagem penetrando a passo nas solas.
Agora, estou atento a cada respiração sua. Sento-me empertigadamente e mastigo minhas balas de goma, circunspecto, para não lhe perturbar de forma alguma.
Em resumo: permanecemos vagos e ermos dentro de nossos muros. As pessoas se rechaçam, arquitetas de suas lidas de vidro, sofrendo suas mortes a crédito.
E assim, vidas se misturam, incompletam-se, e a dúvida subsiste: se somos o que calamos, existimos por elipses?