Em resumo: permanecemos vagos e ermos dentro de nossos muros. As pessoas se rechaçam, arquitetas de suas lidas de vidro, sofrendo suas mortes a crédito.
E assim, vidas se misturam, incompletam-se, e a dúvida subsiste: se somos o que calamos, existimos por elipses?
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comentários:
Anônimo
disse...
A permanecermos vagos e ermos, tornamo-nos inconsistentes, incoerentes e incompletos. Calados, somos compreendidos. Ao falarmos tornamo-nos loucos... Elipses...
Ficamos nesse beco-sem-saída, jogando com ecos do que ouvimos, aumentando a intensidade de algumas palavras, diminuindo outras... Na espera de que alguém, em algum momento, faça-nos sentido. Qualquer.
Fabrício, desta vez você se superou! Achei fantásticos os seguintes versos: "Se somos o que calamos,/existimos por elipses?" Poxa...quantos são os que realmente têm algo construtivo a partilhar, a ensinar, e que se calam; enquantos outros, de mentes vazias de conteúdo útil, são verborrágicos. Isso é algo a se pensar... Grande abraço, Rôsi Fernandes
Primeiramente, muito obrigado pelo elogio. Significa muito. Não escrevo para obtê-los, mas que o meu escrito encontre ressonância em quem me lê. Como eu já expressei antes, os comentários aqui são como uma continuação dessa leitura.
Nessa babel de signos em que vivemos, a cacofonia nos impede de ouvir quem realmente importa. Perdemo-nos, infelizmente, na balbúrdia. E muitas vezes, culpamos a timidez (será?) por não abrirmos a boca.
Sem dúvida, gosto de me lavar nas "ondas de seu mar de flagelação filosófica"!(Quanto ao heterônimos de Fernando Pessoa,(aos quais me referi), você não tem, de maneira alguma,a característica "patológica'que ele mesmo certa vez registrou: "A origem de meus heterônimos é o fundo traço de histeria que existe em mim"(argh!). Você não é histérico! É POETA! - procura ver e analisar a VIDA através da PALAVRA! É um presente para mim conhecer e LER pessoas como VOCÊ"! Meu abraço, Andrea Marcondes
Intrigante o texto de hoje. Fiquei pensando no quanto a palavra não verbalizada, atravessada, incomoda. Por vezes a omissão me conduz para onde não quero ir.
Ah, Andrea, como você parece me conhecer, então. Nada histérico, mas poeta. Embora sejam parecidos, a olho nu, não é? Só que a patologia aqui, se existente, está justamente no que você registrou: analisar a vida através da palavra, essa comichão de todas as horas.
É justamente esse incômodo em que me foco. O silêncio travado, aquele quase que imposto, azeda a palavra no peito, fermenta rancores e melancolias. O forçar entendimento sem se explicitar o que se quer dizer é uma das maiores agruras a que se pode impingir a quem convive conosco. E tem gente, imagine!, que ainda prega que isso é sinal de boa convivência! Um disparate!
Nesse momento estou assim, vaga e erma. Nem sei o que é erma... ehehe. Interessante o comentário acima sobre a verborragia de quem não tem nada a falar.. Passei boa parte da vida calada pq achava que não tinha nada que prestasse pra dizer às pessoas e hj vejo que tenho muito, comparado a tantas outras por aí. Bom, sem mais, vou me calando por aqui. Bjs, Lei
... E precisamente porque achamos que não temos nada a dizer (quando, de fato, sempre temos) é que as palavras adoecem em nós. E aí, cristalizadas em silêncio forçado, tornamo-nos desimportantes para a vida (ou assim nos sentimos). Assim, deixamos que os outros nos assumam, falem por nós, tomando as rédeas de nossa existência. Tornamo-nos fantoches, bonecos de mímico.
Verdade! Certa vez, sonhei que eu havia morrido e continuava existindo em forma de espírito. Havia sido calada durante toda a vida e depois de morta agora queria falar, mas ninguém podia me escutar. Era angustiante. A partir desse sonho/pesadelo, fui vendo a importância de me extroverter...
Esse poema é quase um libelo anti-distanciamento, daqueles provocados pela urbanidade gritante. Gente que nem se fala, mesmo sendo vizinho de porta. Gente que não lhe cumprimenta em retorno ao seu 'bom dia'. Gente que se isola por acreditar que tudo é medo, todos são ameaça.
Não advogo aqui aquele retorno ao jeito interiorano de colocar cadeiras na calçada, de sair cumprimentando todos, de saber da fofocagem geral e irrestrita (longe de mim!). O que aponto é esse criar de uma carapaça de silêncio e alheamento que só fazer endurecer mais e mais, distanciando-nos até de quem está mais próximo da gente, companheiros e familiares. Em graus mais absurdos, há aqueles que se apartam até de si mesmos.
Sou uma 'matraca' e costumo partir do princípio que ninguém vai ler me pensamento; então, detesto joguinhos. Agora é preciso saber quando vale a pena falar ou calar.
Sua postura é a minha. Não somos telepatas (ainda). Expressar-se é nossa forma de devolver o mundo o que nos entra por todos os poros; fazer sentido desse amálgama de informações (muitas vezes, desconexas).
"se é areia o q nos cobre o ser - deserto/ o q não somos, aos outros, far-se-á decerto?" lembrei desse trechinho. gosto desse in/vértice/avesso nosso inviesado pelo olhar; pelo verbo...
falando em calar, vou meio quieta por estes tempos. mas sempre volto. =)
O silêncio forçado me incomoda. O subentendido não inteiramente percebido e decifrado. Aquilo que poderia ser mais bem exposto e não foi. Há horas que, inevitavelmente, a ausência de palavras deve imperar; noutras tantas, por que não ser claro e preciso? Prefiro a inundação controlada por mim, do que o rompimento da represa por frestas que não percebo (mas que se fazem notar, de qualquer modo).
Olá Fabrício! Por vezes não deixa-mos que ninguém invada a nossa vida,ficamos presas no nosso casulo e por vezes não é o correcto,mas cada pessoa é como cada qual e cada uma com a sua maneira de ser Beijos e boa noite!
Ainda que precisemos respeitar o 'tempo de casulo' alheio, acho que é tortura demasiada concordar que a ausência de comunicabilidade seja o nosso idioma cotidiano...
Ainda bem que temos esse válvula de escape, o blog que nos desvendamos ao olhar alheio e os comentários que nos permitem trocar experiências, opiniões e cumprimentos.
24 comentários:
A permanecermos vagos e ermos, tornamo-nos inconsistentes, incoerentes e incompletos. Calados, somos compreendidos. Ao falarmos tornamo-nos loucos... Elipses...
Su,
Ficamos nesse beco-sem-saída, jogando com ecos do que ouvimos, aumentando a intensidade de algumas palavras, diminuindo outras... Na espera de que alguém, em algum momento, faça-nos sentido. Qualquer.
Abraço!
Fabrício, desta vez você se superou! Achei fantásticos os seguintes versos: "Se somos o que calamos,/existimos por elipses?" Poxa...quantos são os que realmente têm algo construtivo a partilhar, a ensinar, e que se calam; enquantos outros, de mentes vazias de conteúdo útil, são verborrágicos. Isso é algo a se pensar...
Grande abraço,
Rôsi Fernandes
Rôsi,
Primeiramente, muito obrigado pelo elogio. Significa muito. Não escrevo para obtê-los, mas que o meu escrito encontre ressonância em quem me lê. Como eu já expressei antes, os comentários aqui são como uma continuação dessa leitura.
Nessa babel de signos em que vivemos, a cacofonia nos impede de ouvir quem realmente importa. Perdemo-nos, infelizmente, na balbúrdia. E muitas vezes, culpamos a timidez (será?) por não abrirmos a boca.
Abraço!
O sentimento traduzido em palavras!! Show!
Xeru
Morgana
Morgana,
Gratíssimo por seu comentário!
Beijos!
Sem dúvida, gosto de me lavar nas
"ondas de seu mar de flagelação filosófica"!(Quanto ao heterônimos de Fernando Pessoa,(aos quais me referi), você não tem, de maneira alguma,a característica "patológica'que ele mesmo certa vez registrou: "A origem de meus heterônimos é o fundo traço de histeria que existe em mim"(argh!). Você não é histérico! É POETA! - procura ver e analisar a VIDA através da PALAVRA!
É um presente para mim conhecer e LER pessoas como VOCÊ"!
Meu abraço,
Andrea Marcondes
Fabrício,
Intrigante o texto de hoje. Fiquei pensando no quanto a palavra não verbalizada, atravessada, incomoda. Por vezes a omissão me conduz para onde não quero ir.
Até mais
Ah, Andrea, como você parece me conhecer, então. Nada histérico, mas poeta. Embora sejam parecidos, a olho nu, não é? Só que a patologia aqui, se existente, está justamente no que você registrou: analisar a vida através da palavra, essa comichão de todas as horas.
Abraço, com carinho!
Raquel,
É justamente esse incômodo em que me foco. O silêncio travado, aquele quase que imposto, azeda a palavra no peito, fermenta rancores e melancolias. O forçar entendimento sem se explicitar o que se quer dizer é uma das maiores agruras a que se pode impingir a quem convive conosco. E tem gente, imagine!, que ainda prega que isso é sinal de boa convivência! Um disparate!
Abraço!
Nesse momento estou assim, vaga e erma. Nem sei o que é erma... ehehe. Interessante o comentário acima sobre a verborragia de quem não tem nada a falar.. Passei boa parte da vida calada pq achava que não tinha nada que prestasse pra dizer às pessoas e hj vejo que tenho muito, comparado a tantas outras por aí. Bom, sem mais, vou me calando por aqui. Bjs, Lei
Lei,
... E precisamente porque achamos que não temos nada a dizer (quando, de fato, sempre temos) é que as palavras adoecem em nós. E aí, cristalizadas em silêncio forçado, tornamo-nos desimportantes para a vida (ou assim nos sentimos). Assim, deixamos que os outros nos assumam, falem por nós, tomando as rédeas de nossa existência. Tornamo-nos fantoches, bonecos de mímico.
Beijo!
Verdade! Certa vez, sonhei que eu havia morrido e continuava existindo em forma de espírito. Havia sido calada durante toda a vida e depois de morta agora queria falar, mas ninguém podia me escutar. Era angustiante. A partir desse sonho/pesadelo, fui vendo a importância de me extroverter...
Lei
Lei,
Esse poema é quase um libelo anti-distanciamento, daqueles provocados pela urbanidade gritante. Gente que nem se fala, mesmo sendo vizinho de porta. Gente que não lhe cumprimenta em retorno ao seu 'bom dia'. Gente que se isola por acreditar que tudo é medo, todos são ameaça.
Não advogo aqui aquele retorno ao jeito interiorano de colocar cadeiras na calçada, de sair cumprimentando todos, de saber da fofocagem geral e irrestrita (longe de mim!). O que aponto é esse criar de uma carapaça de silêncio e alheamento que só fazer endurecer mais e mais, distanciando-nos até de quem está mais próximo da gente, companheiros e familiares. Em graus mais absurdos, há aqueles que se apartam até de si mesmos.
Beijo!
Sou uma 'matraca' e costumo partir do princípio que ninguém vai ler me pensamento; então, detesto joguinhos. Agora é preciso saber quando vale a pena falar ou calar.
Nanda,
Sua postura é a minha. Não somos telepatas (ainda). Expressar-se é nossa forma de devolver o mundo o que nos entra por todos os poros; fazer sentido desse amálgama de informações (muitas vezes, desconexas).
Abraço!
Falo ou não falo? Calar o que me inunda e escapar por minhas frestas. É luta perdida!
Esse poema já entrou pros meus 'tops pra ler todo dia pra ganhar felicidade'. Obrigada por, na sua densidade, deixar
meus dias mais leves!
Grande abraço!
Patricia.
"se é areia o q nos cobre o ser - deserto/ o q não somos, aos outros, far-se-á decerto?"
lembrei desse trechinho.
gosto desse in/vértice/avesso nosso inviesado pelo olhar; pelo verbo...
falando em calar, vou meio quieta por estes tempos.
mas sempre volto. =)
um beijo
Patrícia,
O silêncio forçado me incomoda. O subentendido não inteiramente percebido e decifrado. Aquilo que poderia ser mais bem exposto e não foi. Há horas que, inevitavelmente, a ausência de palavras deve imperar; noutras tantas, por que não ser claro e preciso? Prefiro a inundação controlada por mim, do que o rompimento da represa por frestas que não percebo (mas que se fazem notar, de qualquer modo).
Abraço para ti, que me lê com tanta generosidade!
Rafaela,
Havia sentido seu silêncio, e estranhado. Gosto de seu olhar sobre meu texto, seu tempero sobre minhas palavras. Que bom que veio.
E obrigado pela citação. Fez-me pensar: não importa se água ou areia, o represado faz-se o que somos, realmente?
Beijo!
Olá Fabrício! Por vezes não deixa-mos que ninguém invada a nossa vida,ficamos presas no nosso casulo e por vezes não é o correcto,mas cada pessoa é como cada qual e cada uma com a sua maneira de ser
Beijos e boa noite!
Carla Granja
http://paixoes-encantos.blogs.sapo.pt/
Carla,
Ainda que precisemos respeitar o 'tempo de casulo' alheio, acho que é tortura demasiada concordar que a ausência de comunicabilidade seja o nosso idioma cotidiano...
Oi Fabrício,
palavras tão conscientes da nossa condição: tristes animais urbanos privados de sua essência.
A viagem foi ótima sim,obrigada!
Já estava vindo te rever quando você apareceu. Sempre tão esperada a sua presença.
Um abraço, querido!
Van,
Ainda bem que temos esse válvula de escape, o blog que nos desvendamos ao olhar alheio e os comentários que nos permitem trocar experiências, opiniões e cumprimentos.
Abraço!!
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