quarta-feira, 4 de julho de 2012

Liturgia


Um fulgor prematuro hesita lá fora,
na noite que esvazia suas estrelas
num borrão de alvorada.
A fina pele de vidro
deixa entrar um gris inegável
às 5 da manhã, que vem
à queima-roupa contra
o guardado escuro em que durmo.
Ganha uma escrivaninha, uma cadeira,
o quarto como que um
excêntrico experimento de desordem,
alvorecendo em pequenas somas
: uma casa, uma data,
um cortinado de clarão do dia.
Talvez seja isso a comunhão legítima,
essa vida que nos permite
a cada manhã
nova hóstia de sol.

14 comentários:

Talita Prates disse...

Metáfora belíssima para dizer o sagrado.
Adorei!

Beijo, poeta.

Larissa Siqueira disse...

Belíssimo... E esse belo sol que nos ilumina a cada manhã nos traz uma aura de recomeço... muito bom isso :)

Fabrício César Franco disse...

Agradeço muitíssimo seu elogio, Poetisa.

Que saibamos usufruir (e compartilhar) tal sacramento, todos os dias.

Beijo!

Fabrício César Franco disse...

Larissa,

O mais importante, acho eu, é entender que temos essa chance de recomeço, todos os dias. Que saibamos usar isso, sempre, a nosso favor.

Beijo, querida!

Anônimo disse...

Todas as manhãs abro os olhos e olho para as frestas da veneziana que tampa o meu quarto. Procuro as réstias de um Sol amigo, fortuito e mesmo assim fiel... Então, aquela impressão listrada gravada nos meus olhos, lembram-me o quanto amo cada dia com ele - o Sol.
Adorei o poema!
Bjusss

Fabrício César Franco disse...

Suzana,

Verdade que sou uma pessoa mais noturna, mas o amanhecer (se não fosse tão cedo...) é um dos espetáculos mais lindos que há. E sempre com a promessa de novidade!

Beijo e obrigado pela visita!

Wanderly Frota disse...

Dádiva bem escrita.
Consagração divina!

Impecável, fiquei!


Beijo doce!

Fabrício César Franco disse...

Wanderly,

Seja muitíssimo bem-vinda nesse meu quinhão literário! Adentre. Há corredores e vãos, bastante coisa a se ler. Fique muito à vontade, o espaço é nosso.

Um beijo!

Rafaela Gomes Figueiredo disse...

que lin-do!
pareceu-me, enquanto lia, o início de um romance [quiçá] simbolista: a sinestesia estampada em imagens plenas de tato...
é sempre um encanto te ler, Franco!

beijos gratos

Fabrício César Franco disse...

O encanto é ser (bem) lido por você. Sim, sinestesia, esse sol que (nos) encanta todos os dias, mesmo nos nublados ou chuvosos. Pois ele está lá, ainda que por detrás de sombras ou cortinas de água.

Quem agradece, beijos e leitura, sou eu.

Outro beijo!

Raquel Sales disse...

Fabrício,

E a cada dia comungamos. que venha nova hóstia de sol...

Inté

Fabrício César Franco disse...

Raquel,

Esse é o maior compartilhamento que todos nós temos...

Inté!

Will Carvalho disse...

Além de simbolizar essa "nova chance de cada dia", essa hóstia (como perfeitamente vc chamou)visita cada um de nós, lembrando que o dia nasce pra todos. É comunhão.

Parabéns!

Fabrício César Franco disse...

Will,

É justamente a chance de ser "para todos" é que faz disso a grande comunhão.

Abraço e grato pela visita!

 
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