quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Sudário


Sigo um certo rastro de vida
que não me leva a lugar algum.
Aceito relações feitas de acaso
e circunstâncias: onde
acontece estar meu corpo.

Na verdade,
vivo para buscar
a parte rebelde de mim,
que descansa no sem fôlego
de uma noite sozinha,
vazia,
amarga de insônia.
“O meu ofício é ter alma”.

Mas ainda me desconheço:
entre o que sou e eu
existe um hiato,
virgem como uma dançarina
sem coreografia.


18 comentários:

Fernanda Fraga disse...

Fabrício que perfeito!
Esse hiato, subverte horizontes.
Beijos.

Fabrício César Franco disse...

Oi, Fernanda!

Obrigado pela visita e comentário. Nesse hiato, eu me erigi durante esses vários anos e, confesso, ainda há bastante espaço para poder dizer que ainda me falta muito para completá-lo.

Beijo!

Anônimo disse...

Seu ofício é ter alma sim... Da alma partem as palavras. As palavras criam beleza e a beleza é uma verdade que depende de um olhar. Nunca haveremos de nos conhecer por completo, porque dentro de nós há uma legião de todos os nossos "eus".
Bjussss

Fabrício César Franco disse...

Suzana,

Isso não nos impede de continuar tentando tal encontro, não é?

(Muito provavelmente, aliás, é isso que nos motiva a escrever, as palavras servindo como guias para que os "eus" possam se encontrar).

Abraço!

Regina Bittencourt disse...

Maravilha! Como sempre um gênio da sensibilidade! A alma navega em mares calmos à procura de um eu! Sem necessidade, mas com vontade! Parabéns!

Fabrício César Franco disse...

Regina,

Muitíssimo obrigado pelo comentário. Para alguém, como eu, que mantém um blog, essa é a melhor paga.

E sim, alma é nau, "embriagada ao mar" da vida.

Abraço!

Anônimo disse...

Caro POETA,
Leio você e constato: provocar a inquietação é a forma que a poesia tem para mostrar a CONDIÇÃO HUMANA. Aí está o caráter do fazer poético:
despertar a consciência!
Continue seu OFÍCIO!
E sempre permita que nós, leitores,
aproveitemos sua ARTE. E que, na sua BUSCA nos identifiquemos. Afinal, na VIDA, sempre há momentos de sérias interrogações...
Grande abraço,
Andrea Marcondes

Fabrício César Franco disse...

Andrea,

Quando comecei a escrever, não pensava que a labuta poética seria de tal monta. Era, tão somente, uma forma de desabafo; ou melhor dizendo, de apaziguamento das palavras que se coiceavam no meu peito. Hoje, um quarto de século nessa senda (sina?), sei que o ofício é mesmo esse: fustigar a complacência.

Abraço, com carinho!

Válter Moisés disse...

Nobre amigo... seu poema Sudário, é exemplo forte do Fernando Pessoa que há em você. Parabéns!!! Magnífico poema.

Nanda disse...

Ahhh, a eterna busca. certa vez, num outro post, comentei e acho que vale o 'bis': o melhor da jornada é o caminho. Inté, ótimo final de semana!!!

Fabrício César Franco disse...

Válter,

Que coisa boa, ter seu comentário por aqui!

Tive a grande honra de ter esse poema premiado, há 25 anos, durante meu tempo de estudante da UFMG. Estranhamente (ou nem tanto), ele é ainda bastante atual (continuo o mesmo).

Abraço!

Fabrício César Franco disse...

Nanda,

Sua frase não poderia ser mais verdadeira. Enquanto houver caminhante, haverá estrada.

Inté!

Rafaela Gomes Figueiredo disse...

Franco,
ainda mais que na profundidade do tema (existencial-essencial), tuas palavras passeiam na imensidão poética, pela qual sou conduzida com um misto de sensações e articulações: sorriso (deleite), cenho franzido (pensando na verdade comum q há ali) e, novamente, sorriso (gratidão pela leitura ofertada).
Lindo simplesmente!

Beijo

Fabrício César Franco disse...

Rafaela,

De mim, seu comentário só obteve um largo sorriso de contentamento por saber que meu escrito, já com um quarto de século, encontrou eco em sua leitura. Muito obrigado pelo carinho!

Um beijo!

Raquel Sales disse...

Fabrício,

Ainda bem que não li antes... Estava sofrendo de todos os sintomas que vc descreveu. Poderia agravar mto meu quadro clínico... Rsrsrsrsr
Já estou razoavelmente imunizada.
Bj

Em tempo: belo texto, como de costume.


Fabrício César Franco disse...

Raquel,

Infelizmente não há como me imunizar daquilo que mais sou, do que me (in)define.

Obrigado pela visita ao Logomaquia!

Beijo!

Lyu Somah disse...

Fabrício você escreve muito lindo!
ADOREI MAIS AINDA A PARTE QUE VOCÊ DIZ:
"O meu oficio é ter alma"

Abração Fabrício


Lyu somah
http://lyusomah.blogspot.com.br/

Fabrício César Franco disse...

Lyu,

Fico muito grato por sua apreciação do que escrevo.

Abraço!

 
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