domingo, 18 de junho de 2017

Zero


A modorra se alastra
feito líquido num mata-borrão.
A vida entrando numa faixa de Moebius –
os segundos se repetem infindavelmente
num contexto intercambiável.
O tédio impele o pensamento para outros planos,
onde espreito universos distintos
nos gravames desta reunião.

Mas a voz monocórdia ainda ecoa
tal metal numa incude, vezes repetidas,
como se mais do que dizer,
quisera extasiar-se em seu próprio timbre.
Ligo meu isolamento acústico e abstraio.
Adoto o balançar aquiescente de cabeça,
os murmúrios da boca semifechada,
o olhar entibiado escondido atrás de uma falsa atenção.
Nunca minha caneta explorou tanto
os enleios da inspiração, os folguedos do nada.
No colóquio do meu desinteresse com a falta de assunto,
o desperdício da manhã:
tarda autoquíria da alma.


4 comentários:

Anônimo disse...

Caríssimo POETA,
Concordo com você. Há "situações" tediosas em que somos obrigados (pela ÉTICA) a disfarçar; e fingir atenção, assentimento.
Gosto de ler sua obra e analisar minha vida.
Grande abraço,
Andrea Marcondes

Fabrício César Franco disse...

Andrea,

Esse é um daqueles poemas da "antiga fase", mas já estava mais do que na hora de vir à luz. E se você analisa a vida pelo que escrevo, veja só que ironia: eu escrevo o que analiso da vida.

Abraço, com 'sodade'.

Rafaela Figueiredo disse...

Maravilhoso, Franco!
Às vezes nos pegamos no 'piloto automático ' por extrema necessidade...

Estou bem. Ré confessa no abandono do blog, mas as leituras e escrituras seguem me acompanhando (graças!)... Quem sabe termine meu livrinho até o fim deste ano.

Bjos

Fabrício César Franco disse...

Poetisa,

A rotina nos esmaga, confortavelmente. Às vezes, só notamos muito tardiamente. Fico contente em saber que a produção por aí não parou, apesar de tudo. E que venha a publicação!!!

Beijo e obrigado pela visita!!

 
;