segunda-feira, 19 de março de 2012

Sessão da tarde


De todos os assentos 
que você poderia ter 
escolhido neste amplo,              desmedido 
ambiente, todo 
vazio, todo                                   disponível, 
                                                            você 
escolheu logo 
aquele próximo a mim. 

Eu estava 
sôfrego por solidão, 
por um espaço 
quieto e escuro 
nos minutos desagendados
                                                           à força, 
para abrandar 
os círios de minha alma 
nas janelas dos olhos lentos. 

Queria me despir 
deste indumento 
de fruta couraçada 
e não cogitar 
das desavenças,
                                                          desperdícios 
que se fomentam no mundo. 

Será que você percebeu? 

Eu me sentei aqui,                  entorpecido, 
                                                         cataléptico, 
                                                         pesado na cadeira, 
pés descalços sobre o assoalho, 
a friagem penetrando
                                                         a passo 
                                                         nas solas. 

                                                         Agora, 
estou atento 
a cada respiração sua. 
Sento-me 
                                                        empertigadamente 
e mastigo minhas balas de goma, 
                                                        circunspecto, 
para não lhe perturbar 
de forma alguma.



24 comentários:

Anônimo disse...

Um estranho desejo de solidão... Sempre solitário.
Até sentir um leve comichão...
Tremendo adversário!
Sozinhos e juntos naquele santuário.
Busque, toque, fique...
Mil palavras, num glossário.

Aiai... Desculpe, não resisti. Também, que poesia linda essa sua, altamente inspiradora.
Bjusss

Fabrício César Franco disse...

Su,

Quando ganho comentários-presentes assim, como o seu, que engrandecem o que escrevi, eu fico num contentamento sem tamanho. Poesia que gera poesia. Eu não poderia pedir mais.

Muitíssimo obrigado!

Anônimo disse...

Ah! POETA!
Só hoje pude ler seu poema postado em 17/03/12 e aproveitei para ler a postagem de hoje.
Encantou-me, novamente, sua habilidade na escolha das ilustrações!
"QUIMERA"... seu poema traduz muito bem a UTOPIA dos "amores voláteis"*: atraem, seduzem...e decepcionam.
(*Expressão usada por você).
................................
"SESSÃO DA TARDE": sua ARTE POÉTICA retratando (como eu gostaria de saber fazer), cena(s) do cotidiano!
Reitero minha admiração!
Abraço.
Andrea Marcondes

Fabrício César Franco disse...

Andrea,

Sua habilidade vai além do retratar cotidiano dos fatos: sua habilidade fomentou a escrita de vida de tanta gente, que é quase impossível contabilizar. Eu sou um deles.

A admiração, tenha certeza, é mútua.

Abraço, com muito carinho!

Simone disse...

Muito lindo, parabéns Teacher.

Abs!!

Fabrício César Franco disse...

Simone,

Obrigado pelo elogio. Fico muito feliz em ter sua presença por aqui. Volte sempre!

Abraços!

Raquel Sales disse...

Fabrício,

Hoje estava entorpecida pela rotina. O dia passando cinzento, frio e chuvoso. A alma semicerrada e precisada de estar só. Adiei a leitura, até que as atribulações dessem trégua. Finalmente, esvaziada, sorvi cada palavra. Valeu a pena. Fui resgatada do transe.

Obrigada!

Fabrício César Franco disse...

Raquel,

Segundas são sempre dias entorpecedores. Que bom que houve algo que pode lhe resgatar do marasmo vigente.

Abraço!!

Anônimo disse...

Poesia maravilhosa, Fabricio

levou-me à minha sala de exibição, aos cantos escuros e desejos de pés descalço e a imposição a postura que nos exige o súbito, o inesperado e indesejado que pode até se tornar desejado, tamanho o nosso costume a nos posturar, seja por nós, seja pela súbita presença.

Achei divino, poeta!

Um beijo

Fabrício César Franco disse...

Van,

Maravilhosa é sua observação sobre o que eu escrevi. Fico muito honrado. No seu olhar, consigo ver nuances de coisas que nem vislumbrei, quando escrevia, originalmente. Esse é o grande presente, a grande sacada, de poder ter o que se escreve, comentado. Obrigado!

Beijo!

Magda Albuquerque disse...

A intensidade é impressionante nos seus escritos. Você consegue se colocar inteiro (ao menos essa é a impressão que dá) em cada palavra.
Sempre que venho aqui, me sinto encantada com suas palavras.

Um beijo.

Fabrício César Franco disse...

Magda,

É que o que eu não dou conta, exatamente, de viver eu revido na escrita. Ou, ainda, a escrita me redime muito do que não consigo viver. Ou, dizendo de outro modo, as palavras são meu salvo-conduto nessa vida. De todo modo, quando escrevo, busco o todo-mundo, o sotaque universal, o que nos faz unívocos na palavra.

Obrigado pela presença. Seja sempre bem-vinda!

Beijo!

Maria disse...

Moço,neste espaço quanta beleza há!
Encantada com seus escritos!Beijos de boa noite!

Fabrício César Franco disse...

Maria,

... Fico lisonjeado com suas palavras. E feliz, que tenha me visitado. Seja sempre muito bem-vinda!

Abraços!

Rafaela Gomes Figueiredo disse...

já devo ter dito que gosto muito, muito de poemas que exploram o espaço - os ditos concretos.
e este... nossa! apesar de preterir companhia, é um convite ao vislumbre - e participação - da cena tão bem ins-crita.
eu adorei!

um beijo

Fabrício César Franco disse...

Rafaela,

Vezes há que a solidão é um convite à melhor perspectiva do mundo ao redor, o que nos perpassa (costumeiramente) sem que sintamos, os detalhes que não percebemos. Gosto também desses poemas - ditos polaróides - que me fazem focar num único momento, a tal exploração do espaço que você menciona.

Que bom que tenha gostado!

Beijo e obrigado pela visita, mais uma vez!

Anônimo disse...

Nossa, que lindo... Me emocionei.. Acho que vivo esperando quem se sente ao meu lado assim.

Fabrício César Franco disse...

Caríssima,

Não queira. Quem sentar-se do seu lado assim, tenso, não vai querer seu bem. O contrário é bem mais provável. A não ser que queira um silêncio e atenção absolutos na hora de você ver seu filme.

Anne Barreto disse...

Não foi nem a primeira, nem vai ser a última vez que isso vai acontecer...
Incrível como me vejo nos teus textos, meu amigo....
;)

Adoro isso.

Anônimo disse...

Fab,

A vida (destino?) é mesmo assim, né? Sempre oferta o que não queremos - ou achamos não querer - pelo simples prazer de nos contrariar. Correto? Sim e não, porque o concreto não nos pertence. A relatividade é mesmo pessoal e intrínseca.

O que eu vejo? A solidão que oprime topando com a oportunidade. É uma pena prazerosa não conhecer o final dessa história e poder, dia-a-dia, tecer um trama diferente!

Essa é sua magia, me fazer pensar.

Grande beijo, meu carinho sempre.

Fabrício César Franco disse...

Anne,

Minha maior felicidade, como escritor, é ver que consegui retratar o que/quem me rodeia, em minhas palavras. Se você se viu no que escrevo é porque eu soube ser espelho. Atingi meu objetivo.

Beijo!

Fabrício César Franco disse...

Pat (acho que é você, sem assinatura...),

A trama está aberta justamente para isso, para que, quem me lê, possa elaborá-la, como quiser. Afinal, os melhores escritos são assim: uma colaboração de olhares e estórias.

O "mágico" (de araque) aqui agradece sua visita!

Beijo!

Nanda disse...

Às vezes, uma presença assim vem pra chacoalhar a vida; outras, só pra encher a paciência mesmo...rs - Mas quando é o primeiro caso, é bem bom...rs

Fabrício César Franco disse...

Nanda,

Quando a presença é convidada, é de se esperar que seja bom. Mas quando surge, abrupta e tomando espaço, acaba por avacalhar-nos o cotidiano...

Obrigado pela visita!

 
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